O noticiário sobre os crimes perpetrados pelo chamado Estado Islâmico é aterrador.  Minorias tem sido eliminadas, pessoas que professam outras religiões são obrigadas a conversão sob pena de morrer e milhares de famílias fogem não sabem para onde. Vagam para as fronteiras do Iraque e da Síria. As imagens dos reféns degolados são horripilantes. Tudo em nome da recuperação do estado islâmico como era na época de sua fundação e auge.Mahommed nasceu em Meca no ano de 570. Iniciou-se no cristianismo na Siria e professou, desde então, um Deus único, a ressureição  dos mortos e o castigo aos pecadores. Em Medina, onde se refugiou de perseguição sofreu, profunda influência do judaísmo. Adotou-lhe o rigoroso monoteísmo e fez de Abraão o antepassado comum dos judeus e árabes. Quando morreu grande parte da Arábia Saudita professava o Islã. A região foi unificada por seu sogro Abu Backr. Ele passou a liderar uma ala dos islamitas que ficou conhecida como sunitas. Contudo, o genro do Profeta, Ali, liderou outro grupo que ficou conhecido como xiita. Daí para frente as diferenças teológicas se cristalizaram.


O tal estado islâmico quer voltar às origens. A  capital do império islâmico começou de fato em Damasco, na Síria, e depois mudou para Bagdad, atual Iraque.O califa, o sucessor, era o chefe absoluto e por direito divino. Como os reis europeus dos tempos modernos sob o cristianismo. No século 9 o Islã possuía a hegemonia econômica do mundo e se estendia da Peninsula  Ibérica até a fronteira da China. Centenas de povos na Europa, Norte da África, Oriente Médio e Ásia viviam no maior império desde o início da civilização. O comércio se internacionalizou, as trocas possibilitavam a melhoria de vida de todos e uma moeda única facilitava esse fluxo. O esplendor, a alegria de viver, a arte, poesia e literatura atraiam os estrangeiros. Os europeus do feudalismo babavam de inveja do modo de vida islâmico. Londres era uma pequena, fétida e escura cidade, quando Bagdad  tinha jardins, efervescência  cultural e iluminação pública. Bazares negociam mercadorias vindas de todo o mundo.


Acima das misturas de etnias os califas estabeleceram os quadros de um Estado centralizado e sabiamente administrado. Sem qualquer discriminação de origem. A liberdade religiosa e a autonomia prometidas ás populações conquistadas foram respeitadas. Cristãos e judeus viviam do grande comércio internacional. O Islã salvou o patrimônio do pensamento antigo.  Graças a isso não se perdeu a maior parte da filosofia grega e a humanidade pode conhecer as obras de Platão e Aristóteles. A cultura  nas universidades era cosmopolita e os professores podiam ser muçulmanos, judeus ou cristãos.  Filósofos, pensadores, matemáticos, físicos, médicos islâmicos ensinavam e frequentavam centros de culturas espalhados no império. Como se vê não é nada disso que o atual Estado Islâmico pretende. Provavelmente quer voltar a um passado que não sabe o que é. Quer impor a cultura do crê ou morre, admite o estupro e o sequestro de mulheres e crianças. Certamente o fundador do Islão não lhes daria a benção.

* Heródoto Barbeiro – é escritor e jornalista da RecordNews e R7.com – herodoto@r7.com

Artigo publicado no blog do autor (noticias.r7.com/blogs/herodoto-barbeiro) e reproduzido neste site com sua autorização

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