O Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) enviou ofício ao presidente da EBC, Nelson Breve, exigindo equipamentos de proteção individual para jornalistas que cobrem eventos de risco. O ato extrapola o burocrático e ganha contornos políticos que merecem reflexão. O documento lembra que foi um cinegrafista da TV Brasil que, estando na manifestação em que o colega Santiago Andrade foi atingido por rojão, filmou o momento em que foi mortalmente ferido. Mais à frente, pergunta o Conselho ao presidente Breve: “Se (…) tivesse atingido um trabalhador da EBC, ele estaria protegido por equipamentos de segurança?”


A presidência da EBC não tem alternativa, além de cumprir a determinação do Conselho. É assim no modelo democrático e republicano de gestão da TV pública. Logo, os profissionais a serviço da EBC estarão protegidos, colocando à mostra, pela via inversa, a vulnerabilidade de quem segura o “rojão” da violência das ruas. Mas há que se protegerem também profissionais das emissoras estatais do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, representantes de um Estado percebido como autoritário e injusto pelos manifestantes.. E os colegas das emissoras privadas, identificadas por aqueles com o capitalismo transnacional e com pautas que representam mais o interesse do mercado ou do Estado que o da sociedade.


Ambos profissionais já vêm sofrendo retaliações, algumas que impedem o exercício da atividade jornalística, algumas que agridem física e moralmente o jornalista. Seria ingenuidade achar que não serão os próximos atingidos pela ação – ou reação – revoltada e ensandecida das ruas.


Talvez esteja na hora de o Ministério do Trabalho e Emprego, seguindo o exemplo da nossa TV Pública, normatizar o uso dos equipamentos de proteção, obrigando os órgãos de comunicação em geral a fornecerem a seus jornalistas o que for preciso para proteger quem trabalha sob risco. Afinal, o disparo do rojão que causou a morte de Santiago Andrade pode até vir a ser considerado pela Justiça acidental. Mas a negligência do Estado na proteção da vida do trabalhador, diante de iminente perigo, esta nunca o será.

* Alberto Perdigão é mestre em Políticas Públicas e Sociedade, professor da Universidade de Fortaleza – Unifor (aperdigão13@gmail.com)

Artigo publicado no Jornal O Povo em 27 de fevereiro de 2014 e reproduzido neste site com ciência do autor

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