Na mídia, boa parte das notícias sobre violência têm na base o tráfico e uso abuso de drogas. Mas a questão vai bem além do aspecto policial. Quem vive o drama de ter, entre familiares ou amigos, uma pessoa dependente química sabe o quão complexo é o problema das drogas em nossa sociedade. Onde é possível buscar apoio? O que o poder público pode oferecer para as pessoas envolvidas nesse drama? Para saber como está a questão na capital cearense, a Agência da Boa Notícia entrevistou a Coordenadora Especial de Políticas Sobre Drogas da Prefeitura de Fortaleza, Juliana Sena.  Ela é enfermeira, especialista em Saúde Mental, mestre em Saúde Pública e doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará. Coordenou o Pacto pela Vida na Assembleia Legislativa do Ceará.




Muitos não sabem, por exemplo, que em nível municipal existe o Centro Integrado de Referência sobre Drogas, funcionando 24 horas e um telefone com atendimento gratuito (0800.032.1472). Por meio deles, é possível obter orientação e encaminhamento para a rede de Rede de Atenção Integral aos usuários. Essas são algumas informações dadas por Juliana Sena. Acompanhe a entrevista feita por e-mail.

Agência da Boa Notícia – Qual a estrutura que a Coordenadora Especial de Políticas Sobre Drogas dispõe para enfrentar a questão da droga?

 

Juliana Sena – A Coordenadoria de Políticas sobre Drogas (CPDrogas) é composta por quatro Núcleos: Núcleo de Informação, Pesquisa e Banco de Dados; Núcleo de Integração, Articulação e Monitoramento; Núcleo de Capacitação; Núcleo de Acolhimento e Orientação Institucional. Também contamos com o Centro Integrado de Referência sobre Drogas que acolhe, atende e acompanha o itinerário terapêutico intersetorial do usuário e de seus familiares, por meio de ações integradas com as diversas políticas públicas relacionadas ao problema do uso de drogas nas áreas da saúde, assistência social, educação, segurança cidadã, cultura, esporte e lazer, dentre outras. Funciona 24 horas nos sete dias da semana na Av. Luciano Carneiro, 99 – bairro de Fátima. Além disso, disponibilizamos um canal de comunicação gratuito 24h (0800.032.1472) que presta esclarecimento, apoio e também faz encaminhamento para a Rede de Atenção Integral aos usuários e seus familiares da rede municipal.

ABN – Que ações estão sendo realizadas pela CPDrogas, além do Programa Unplugged (#Tamojunto) desenvolvido pelo Ministério da Saúde, em parceria do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), para evitar a entrada de mais pessoas, especialmente crianças e adolescentes, no universo da drogadição?

Juliana Sena – Articulação Comunitária nas Comunidades (Prevenção ao uso de drogas) – O Projeto contempla as comunidades vinculadas às Escolas Municipais que apresentam maior índice do uso problemático de drogas. A estratégia se dá por meio da participação e mobilização popular, por meio da articulação da Rede de Pais, Rede Comunitária e Rede Intersetorial de Cuidados. Caravana Tamo Junto a Favor da Vida – Projeto de prevenção ao uso de drogas da CPDrogas nas escolas. A caravana tem como objetivo construir um diálogo junto às redes intersetoriais, com foco na prevenção do uso de álcool, crack e outras drogas, com capacitação, informação, atividades recreativas, lúdicas, esportivas e culturais que promovam uma reflexão a cerca de uma cidade saudável e promotora da vida, tendo como base o Plano Nacional Crack, É Possível Vencer e os Programas Saúde na Escola e Mais Educação. Oficinas de Capacitação sobre álcool, crack e outras drogas ou temas afins – Tem o objetivo de levar aos espaços da sociedade metodologias que possibilitem um diálogo efetivo e afetivo sobre a temática droga. Trabalha a prevenção através da informação. Capacitação da rede de profissionais das diversas áreas – Com objetivo de capacitar os profissionais dos diferentes equipamentos da Prefeitura, para que possam fazer a identificação precoce das situações de uso de drogas e o devido encaminhamento das demandas. Além de proporcionar aos profissionais conhecimento acerca da temática, com informações sobre os tipos de drogas e seus efeitos no indivíduo e sociedade.

ABN – E com relação ao tratamento de dependentes químicos, até onde pode ir capacidade de atuação da CPDrogas? Pela imprensa ou por histórias que tomamos conhecimento em particular – familiares se queixam por não ter onde tratar os filhos? Clínicas particulares de desintoxicação são caras, os hospitais psiquiátricos estão fechando e os que existem não contam com vagas suficientes ou tratamento adequado; e as comunidades terapêuticas nem sempre são o ideal?

Juliana Sena – A Rede de serviços de tratamento da Prefeitura conta com 332 vagas para internação, assim distribuídas: 270 em organizações não governamentais, 30 na Unidade de Acolhimento Silas Munguba, 12 leitos na Santa Casa e 20 nos dois CAPS ad 24horas.  Contamos ainda com mais quatro CAPS ad, que fazem acompanhamento de forma ambulatorial. Para o ano de 2014, serão construídas mais 3 Unidades de Acolhimento, uma unidade de desintoxicação com 25 leitos no Hospital Luís de França (Francisco Sá), além da transformação de todos os CAPS ad para o funcionamento 24 horas.

ABN –  Por falar em comunidades terapêuticas, muitas são criadas por ex-dependentes ligados a grupos religiosos. A CPDrogas tem conhecimento de como está a situação? Há um mapeamento e acompanhamento dessas comunidades em Fortaleza?

Juliana Sena – As Comunidades Terapêuticas conveniadas com a Prefeitura foram habilitadas através de seleção pública, com critérios técnicos estabelecidos pela Portaria 131/2012 do Ministério da Saúde. O convênio prevê o acolhimento dos usuários de álcool, crack e outras drogas a partir de um Projeto Terapêutico que promova a recuperação e reinserção social dos mesmos. A CPDrogas acompanha sistematicamente a execução dos convênios e a aplicação da proposta terapêuticas das Instituições. Quanto às práticas religiosas, estas podem ser uma opção para os usuários que desejam participar das atividades, não é permitida a imposição de atividades religiosas como obrigatórias no tratamento. Ressalta-se que a entidade deve respeitar a opção religiosa de cada indivíduo.

ABN –  Como a Coordenadoria tem se articulado com o governo em nível estadual e federal, além de outros segmentos da sociedade para enfrentar o problema das drogas?

Juliana Sena – A Coordenadoria busca o diálogo permanente com as outras esferas governamentais, com objetivo de desenvolver ações conjuntas, contando também com a participação da sociedade para o direcionamento e aprimoramento das políticas sobre Drogas. Destacamos aqui o Plano de Ações do Programa Crack, é possível Vencer, que envolve as três esferas de governo e a participação da comunidade para o enfrentamento aos problemas relacionados ao uso de drogas.

ABN –  Ainda se trata a questão das drogas – envolvendo o usuário – como algo da esfera policial, com repressão. Como a Sra. avalia a situação e o que pode ser modificado?

Juliana Sena – Essa realidade é algo que vem mudando gradativamente, o olhar para os usuários de drogas, na visão da Prefeitura, está associado ao cuidado e a reconstrução de suas vidas, além do envolvimento familiar e comunitário.O Plano crack, é possível vencer e o Plano Municipal de Segurança Cidadã, preveem ações de policiamento de proximidade pela SSPDS, onde as situações serão encaminhadas para os diferentes serviços da Prefeitura, a partir de uma avaliação da equipe intersetorial. Além da participação da Guarda Municipal que irá atuar no videomonitoramento das áreas com maior incidência de violência e criminalidade, para que possamos agir de forma preventiva nos casos onde forem identificados contextos de vulnerabilidade.

ABN –  O que a Sra. diz sobre a proposta da prevenção de danos (o Estado garantir a melhoria da saúde dos usuários sem interferir na opção deles de usar a droga?)

Juliana Sena – Sobre a Redução de danos, consideramos uma importante estratégia da Política Nacional sobre Drogas, pois trabalha na perspectiva do vínculo com os usuários. A oferta dos serviços é de cuidado, principalmente no campo da saúde, dessa forma mesmo que o usuário não deseje parar o consumo, ele se vincula ao serviço, o que gera uma oportunidade para abordar os problemas com o uso da droga. O modelo da redução de danos não nega a abstinência do usuário, ele apenas não a coloca como condição para o tratamento.

ABN –  Na visão da Sra. que papel empresas e profissionais de Comunicação podem desempenhar para contribuir na solução do problema das drogas?

Juliana Sena – O mais importante é a divulgação de informações com base científica, para que os diferentes posicionamentos pessoais não criem dúvidas e embaraços na sociedade. Outro ponto fundamental é a redução do estigma que envolve os usuários de drogas, sobretudo o crack. Essas pessoas e suas famílias, na maioria das vezes, foram violentadas em seus direitos fundamentais, precisam de novos caminhos e possibilidades. Essa reconstrução requer ações do poder público e da sociedade de modo geral. Além disso, os profissionais de Comunicação devem buscar pautar as diversas ações que estão sendo desenvolvidas pelas esferas governamentais no enfrentamento a problemática, e não focar sempre nas questões que explorem o uso.

 


Mais informações: Coordenadoria de Políticas sobre Drogas (CPDrogas) – (fone: 85 3452 7283 / 3452 6782)

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