A práxis política se constitui como a arte da gestão de interesses. O líder é um sujeito mediador do seu próprio ponto de vista com os objetivos dos outros indivíduos e da coletividade que representa. Na democracia, a participação legitima a representação – Poder Legislativo – e a delegação para a gestão da governança – Poder Executivo –. Nesses termos, a crise da democracia contemporânea é também fruto da inadequação das formas tradicionais de legitimação da representação e da gestão do Estado. Ou seja, a sociedade constitui novos espaços de participação política direta; a mídia converte-se em “indústria da informação”, constituindo-se como mediadora do interesse difuso da população e dos mercados, delineando um contexto cujo futuro da democracia e dos ideais democráticos – como a participação –, tornam-se impossíveis ou artificiais, se a informação não for compreendida como “coisa pública”, portanto, como espaço de exercício do poder e da vida social.


Este é o cenário onde se erguem os novos espaços de socialização das práticas políticas, mediado pelas mídias. A realidade é inventada, ela perde substância; estamos diante da verdade virtual dos que podem falar para milhões o que bem quiserem, nos transformando em ouvidos, caixa de ressonância da opinião fabricada.


Portanto, como estabelecer uma cidadania ativa nesta “desrealidade”? Lembro da possibilidade do resgate ou da ressignificação de iniciativas locais de exercício da participação e do convívio social. O local pode ser o bairro; o condomínio; a escola; o trabalho; a cidade; as comunidades da Web. O crucial é que a ação política invente formas de cidadania ativa, posto que instituem todos como sujeitos ativos das decisões tomadas coletivamente, restituindo, assim, as bases comunitárias da democracia, da política e do exercício do poder gestor da coisa pública.


Seguindo essa trilha, as eleições poderiam ser uma ocasião favorável para fortalecermos a cidadania ativa e inventarmos um Projeto de Futuro Sustentável para a sociedade e para a política. As eleições são por demais importantes para o conjunto da sociedade, não podem ser tomadas como atividade de interesse restrito dos partidos políticos e dos seus candidatos. O cidadão não é mero eleitor; de outra sorte, é eleitor porque é cidadão. O nosso sistema político tem se constituído de um forte componente corporativo, cujos interesses de grupos se sobrepõem aos de conotação coletiva. Nessa lógica, o que importa é legitimar o poder dos vencedores, mesmo que o conjunto da sociedade nem sempre compartilhe das decisões.


A cidadania ativa, contrariando o sistema tradicional, inventaria um futuro, um modo de fazer política fundado no interesse comunitário; construiria bases mais sólidas de legitimidade, pois o objetivo de todo contrato social fundamenta-se na estabilidade das vontades coletivas e não nos objetivos particulares.

Osmar de Sá Ponte é sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará


* Artigo reproduzido neste site com autorização do autor

 

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