As mudanças ambientais globais assumiram centralidade na vida contemporânea e ocupam grandes espaços na imprensa. Os desastres que ocorreram aqui no Brasil, em função das chuvas intensas, e os terremotos, tsunami, com os consequentes vazamentos de radioatividade da Usina Nuclear de Fukushima, no Japão, nos deixaram muito impactados.

Já convivíamos com os problemas provocados pelo uso de agrotóxicos na agricultura e outros tipos de poluição que pouco a pouco passaram a corroer nossa saúde, assim como o próprio equilíbrio ambiental. Estamos assistindo a tentativa de alteração do Código Florestal, que se for aprovada causará a devastação das matas às margens de cursos d’água.

O caso de Fukushima foi paradigmático, pois nos deu mais uma oportunidade de refletirmos sobre os efeitos de certas opções tecnológicas sobre a vida de todos os seres. O descontrole sobre o vazamento de substâncias radioativas mostrou até que ponto chegou a desconexão do homem com a natureza.

A realidade clama por transformações na nossa vida para que possamos selar a paz com a natureza. Este processo inicia pela pacificação da nossa relação com a nossa própria natureza e o retorno à percepção de que também somos seres da natureza. Nesse aspecto os profissionais da comunicação têm muito a contribuir. A Publicidade e as Relações Públicas devem assumir outra lógica de forma a não estimular o consumo e não projetar empresas e produtos que causem danos ambientais. O Jornalismo deve descolar-se dos interesses econômicos que comprometem a qualidade do exercício profissional. Essa utopia possível pode iniciar na formação universitária.

O jornalismo ambiental, nessa perspectiva, tem o potencial de divulgar informações que contribuam com a educação ambiental da população. As matérias produzidas devem ser contextualizadas, incorporar a visão sistêmica, mostrar a inter-relação de todos os elementos que formam a teia da vida e dar voz para as diferentes fontes de informação sem privilegiar fontes oficiais, empresariais e até mesmo científicas, que muitas vezes defendem interessem escusos.

Para que o jornalismo ambiental possa ser praticado de forma correta é necessário que haja uma formação especifica. O primeiro insumo para a transformação é a informação correta, que poderá ser acessada através de uma matéria jornalística. As universidades devem assumir seu papel na formação desses profissionais incluindo na grade curricular o jornalismo ambiental. O jornalismo ambiental que defendemos é aquele que confere outro olhar na prática profissional e que percebe que na natureza tudo é informação. É aquele que se embasa na ética do cuidado amoroso e atua na perspectiva da construção da justiça socioambiental.

 

Ilza Maria Tourinho Girardi é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e sócia do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul – ilza.girardi@ufrgs.br

* Artigo publicado originalmente no jornal O Povo de 28 de maio de 2011

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here