O ser humano é essencialmente bom ou fundamentalmente mau? Nem uma coisa nem outra! Uma pessoa define-se pelo relacionamento entabulado com os seus semelhantes. Em uma visão psicológica, conceber as pessoas simplesmente como “boas” ou “más” é muito simplista. Na verdade, todos os homens poderão ser “encarnação do bem” ou “manifestação do mal”. Na espécie humana, cada ser, tem aspecto sombrio ou criminoso e aspecto caritativo ou humanitário.

Os que admitem a necessidade básica de se relacionar amorosamente com os outros tendem a ser pessoas boas, sobretudo se adotam exemplar norma de conduta moral. Ao revés, aqueles que se insurgem contra a natureza essencial de um bom relacionamento com o próximo, são propensos à prática do mal.

É, pois, em função do relacionamento fraterno que se vai definir a natureza humana, voltada para o bem ou para o mal. Ninguém, com efeito, é bom ou mau predestinadamente. Para os cristãos, Jesus não estava interessado em definir a natureza humana como má, mas em oferecer um modelo de como ser bom. Aliás, o Mestre relacionava-se com a escória da sociedade (adúlteras, criminosos, leprosos…) sem nunca a descriminar. Via em todas as pessoas possibilidades de serem boas, ainda que recriminasse os hipócritas, pertencentes a certas classes de religiosos.

Isto se justifica por que acreditar que toda a humanidade é maléfica faz surgir determinada casta, de convicções exclusivistas, desprezando as multidões pretensamente inferiores ao seu grau de religiosidade. Em psicologia, isso recebe a denominação de “falso eu” e, em religião, de fariseu. Conseguintemente, a humanidade é boa ou má de acordo com os bons ou maus relacionamentos interpessoais e não em face de fatores absolutamente inatos. As pessoas não são boas, nem más. A natureza humana é multifocal, ou seja, o ser humano é considerado bom dependendo de seu maior ou menor grau de relacionamento com Deus e com o próximo.

Ao teor da matéria, não “há qualquer dúvida de que os humanos são influenciados pelos seus relacionamentos com os outros”. Sendo assim, nada há de maior importância que a escolha consciente e incondicionada dos relacionamentos humanitários. Daí o significativo valor da solidariedade na vida. Viver no isolamento é crime contra a natureza humana, posto que a individualidade depende essencialmente da interação, sem a qual torna-se inviável o processo de crescimento moral, intelectual e espiritual da espécie humana no planeta. Muitos religiosos (porque se sentem culpados) adotam a crença de que através de práticas rituais podem ser salvos.

Ao contrário, a noção de que Jesus pretendia mostrar às pessoas que elas são más para que vivam de forma mais digna é uma interpretação contraditória das idéias do meigo Rabino. A salvação passa primeiro pela restauração dos relacionamentos amorosos, considerando que daí se infere o seu maior mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Edilson Santana é Promotor de Justiça – edilsonsantanag@hotmail.com

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