O leque dos surpreendentes acontecimentos internacionais, a renúncia de Bento XVI e o manuseio da bomba atômica em mãos dos guerreiros da Coreia do Norte não atingem a dimensão real de horror do que está ocorrendo nos sertões do Ceará, ante a prolongada falta de chuvas.


O sertão instalou um altar de tragédias, com cidades e aglomerados dependentes de barreiros e pequenos açudes. Proprietários de fazendas assistem o gado morrendo ante seu olhar de desespero, por não conseguir um mínimo de pasto. As marcas são de horror e desespero. Um pecuarista caririense confessou que seu rebanho vem se dizimando diariamente pela falta de chuvas.


Relatou a última cena, testemunhada pelo seu capataz que se viu diante de uma vaca arquejando, no chão quente, ao seu lado um cachorro, também faminto, que já havia devorado uma das orelhas do bovino e tentava rasgar-lhe as laterais da boca. Espetáculo daquela dimensão trágica revoltou o trabalhador que conseguiu afugentar o cão, atirando-lhe pedras. Pouco depois, voltando ao local, foi maior sua revolta.


A vaca estava sendo devorada, ainda viva, por três cachorros que já lhe haviam arrancado os olhos e a língua. Os animais, também famintos, seguiam o automatismo da lei da sobrevivência dos irracionais. Quadro da inoperância do Poder Central neste milênio. Os sertanejos sustentam-se na sublime confiança em Deus, certos de que, logo mais, receberão um copioso inverno e a proteção de sua santa Misericórdia.

Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste e reproduzido neste site com autorização do autor

* Geraldo Menezes Barbosa é jornalista e escritor – geraldodom.barbosa@hotmail.com

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