As árvores também fazem parte da história do Ceará. Foi em 1799, possivelmente, que o primeiro governador do Ceará, Féo e Torres, mandou derrubar um cajueiro que, na época, ficava na rua que hoje se chama Pedro Borges. Conta a lenda que o governador andava a cavalo nas imediações daquela rua quando o galho de um dos cajueiros que ali existia, tirou o seu chapéu da cabeça. Revoltado com isso, Féo e Torres pediu a um açougueiro que, por sinal, tinha seu negócio em baixo daquela árvore, para apanhar o chapéu e o entregar. O magarefe não se mexeu. Mais revoltado ainda, o governador disse, ao açougueiro, que a intenção dele era apenas a de cortar o galho da árvore que havia tirado seu chapéu. Diante da atitude arrogante dele, no entanto, ia mandar derrubar a árvore toda.


No dia seguinte, quando os homens do governador chegaram para derrubar o cajueiro, Fagundes, como se chamava o magarefe, estava armado de faca, seu instrumento de trabalho, por sinal, ao lado de outros magarefes e outros trabalhadores: tecelões, fiandeiros e até pescadores. Assustados, os homens do governador foram embora. Mais tarde, voltaram acompanhados, desta vez, pela polícia que, para obedecer às ordens do governo, enfrentaram os açougueiros e seus aliados. Mas perderam a batalha. A Rua Pedro Borges, portanto, passou a se chamar “do Cajueiro” neste período.


O cajueiro mais famoso de Fortaleza, no entanto, é o da Mentira. Localizado na Praça do Ferreira, o Cajueiro da Mentira recebia, todo 1º de abril de cada ano, a população da capital cearense que para lá se dirigia para votar no maior mentiroso do Ceará. Para isso, um grupo de amigos armava, em baixo do cajueiro, uma mesa em cima da qual ficava uma urna. Era ali que a população depositava seus votos. Terminada a votação, no final da tarde, as cédulas eram contadas e o nome do vencedor, conhecido. Como esta brincadeira não agradava muito alguns políticos, o prefeito de Fortaleza, em 1920, Godofredo Maciel, mandou derrubar o cajueiro que, por causa disso, desapareceu levando, com ele, a brincadeira.


O mesmo – ou quase o mesmo – ocorreu com um pé de oiti que ficava por trás da Igreja do Rosário. Chamado de “o Oiti do Instituto” porque era ali, em baixo daquela árvore, que o Instituto Histórico e Geográfico do Ceará se reunia em seus primeiros anos, o oiti foi derrubado em 1929, pelo prefeito Álvaro Weyne porque, segundo ele, estava impedindo o crescimento urbano da cidade. Como consolo, o prefeito mandou tirar uma foto daquela árvore centenária, que ainda hoje pode ser vista em alguns livros. Conta Otacílio de Azevedo, em “Fortaleza Descalça”, que acompanhou a queda do oiti, que muitas foram as pessoas que choraram quando viram aquele pé cair trazendo, com ele, um dilúvio de folhas.


Passados os anos, Fortaleza não perdeu esta mania de derrubar suas árvores. A última delas ocorreu agora, na Av. Dom Luís e Santos Dumont quando a prefeitura mandou tirar as árvores que ali existiam porque, segundo o prefeito, tal como Álvaro Weyne, no passado, estavam obstruindo o progresso da cidade ou, em outras palavras, a circulação dos automóveis que, de símbolos do progresso são, na verdade, símbolos do atraso.

 

Natalício Barroso é jornalista e escritor

 

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