Se as distorções sociais continuarem, vamos tirar dos jovens aquilo que nós esperávamos dele: o futuro. A observação é do pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Conflitualidade e Violência (Covio), da Universidade Estatual do Ceará (Uece), Geovani Facó. Ele analisou o resultado do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), estudo realizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), em parceria com a Unicef, a ONG Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj) e divulgado na última quarta-feira, 28.


“A pesquisa é muito preocupante. Ela mostra que a concentração de vítimas no quadro de violência urbana é o jovem. A vulnerabilidade traz como consequência a exposição do jovem à violência”, analisou o Facó.


Para ele, a violência atinge, principalmente, os jovens, por estarem envolvidos em relações violentas, estimuladas, especialmente, pela falta de mediação de conflitos. Facó destaca que os adolescentes estão vitimizados, hoje, por suas relações interpessoais, ressaltadas, ainda, pela disputa de territórios. No seu entendimento, se houvesse a mediação de conflitos de baixo potencial, estes não evoluiriam para os de alto potencial.


Gênero e cor da violência


Entre os números alarmantes em todo o País, Fortaleza despontou, ainda, na liderança das capitais brasileiras, apresentando o maior IHA, com 9,92 jovens entre 12 a 18 anos assassinados a cada grupo de 1.000 indivíduos nessa faixa etária. Se nada for feito para mudar esse quadro, a pesquisa prevê que até 2019, 2.988 jovens serão assassinados na cidade. Outro recorte do levantamento mostra que adolescentes do sexo masculino tem quase 12 vezes mais risco de ser vítima de homicídio do que a mulher. Com relação a raça, o negro tem três vezes mais chances de ser morto do que o branco.


A secretária especial dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, resumiu a questão da violência no Brasil traçando um perfil que denominou de três “p”, “pobre, preto e da periferia”. O representante da Unicef, Gary Stahl, afirmou que a cada hora morre um adolescente negro no país. Segundo ele, o número só fica atrás da Nigéria.


A vulnerabilidade social e econômica da juventude está produzindo resultados preocupantes. Segundo Geovani Facó, além da necessidade uma polícia integrada a outras ações de prevenção e mediação, é preciso oferecer políticas públicas de habitação, educação, trabalho e renda. Tem que facilitar ao jovem o acesso a oportunidades concretas de desenvolvimento. Atualmente, conforme o pesquisador, o mercado do crime oferece aos adolescentes “os instrumentos de trabalho, que são as armas. E a grande maioria dos crimes contra os jovens é praticada com armas de fogo. É preciso mudar essas distorções”.


Protagonismo Juvenil


De olho da elevada taxa de homicídios de jovens, a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas da Juventude (CEPPJ) afirma que tem como prioridade a promoção dos direitos da juventude, integrando e fortalecendo as estratégias de promoção dos direitos humanos e garantindo relações equânimes de gênero, raça/etnia, acessibilidade e diversidade sexual.


“O enfrentamento é tido como prioridade. Deve-se ressaltar que a CEPPJ desenvolve projetos que atuam de forma preventiva e que tocam diretamente na redução desses índices. Na Rede Cuca (Barra, Mondubim e Jangurussu) existe a supervisão de mediação de conflitos a qual desenvolve ações em parceria com núcleos de mediação do Ministério Público. Os Cucas recebem jovens que cumprem medidas socioeducativas (centros educacionais, centros de semi liberdade, prestação de trabalho nos Cucas). Além disso, desenvolvem essa metodologia em praças, associações e sedes comunitárias”, garante a CEPPJ.


Há um processo de formação e sensibilização dos jovens, utilizando fortemente a arte urbana e coletivos em cada um dos Cucas, que trabalham ativamente a redução dos conflitos territoriais através da arte. A Rede Cuca está promovendo, entre os dias 27 e 31 de janeiro, a Semana da Paz e Não ­Violência. A programação é uma alusão ao Dia da Não Violência, celebrado em 30 de janeiro. A programação conta com encontros que abordam aspectos sobre conflitos territoriais em alusão a essa temática e realizadas diversas intervenções com arte urbana.


A formação também é outro aspecto das linhas de atuação da CEPPJ que, além dos Cucas, aparece como área a ser estimulada em projetos como Academia Enem e ProJovem Urbano. Esses projetos integram o Programa Integrado de Políticas Públicas de Juventude (PIPPJ) que possui financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) visando a intervenção direta em nosso público mais vulnerável. Segundo a Coordenadoria, está em negociação um novo contrato de empréstimo juntamente com a Saúde que prevê a criação de mais três Cucas e o fortalecimento dos projetos de juventude executados pelas secretarias do Município.


Mais informações: Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude – (fone: 85 3105 1464)

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