A violência, em específico a violência urbana, nas últimas duas décadas, tornou-se um dos assuntos de maior relevância no Brasil. Seja como prática social, seja como representação, ela tem sido objeto de preocupação de governantes, de políticos, da população em geral, sem distinção de classes sociais.

Importante destacar que os homicídios são uma das características da violência no Brasil. Segundo dados de pesquisa, o País, embora tenha apenas 3% da população mundial, responde por cerca de 10% de todos os homicídios do mundo, o que o coloca entre os quatro países mais violentos.

No entanto, ao ser referida a violência como um problema social para a sociedade brasileira, deve-se atentar para os perigos de generalização deste fato, uma vez que as pessoas, em seu cotidiano, são afetadas de formas diferentes pelas práticas consideradas violentas, e que o fenômeno se revela sob uma complexidade de relações e sentidos nem sempre convergentes nas disputas simbólicas do mundo social.

As ocorrências violentas crescem à medida que cresce, também, a sensação de insegurança coletiva, seja decorrente da ausência do Estado na mediação e resolução dos conflitos, seja pelo abuso de autoridade ou ineficiência das políticas de segurança pública.

A insegurança ou a sensação dela tem produzido o medo coletivo, responsável por uma violência a mais que tem alterado os comportamentos individuais e coletivos. Da sociedade fundada na confiança, vivencia-se a desconfiança generalizada de uma sociedade orientada pela exacerbação dos estigmas sobre o outro – seja um território desconhecido, seja o indivíduo ou classes objeto de nossa desconfiança.

Ao tornar públicas as práticas violentas, a mídia mobiliza a opinião pública a tomar partido e a se posicionar. Isto é positivo. No entanto, pelo fato de ela estar em busca de fatos que geram notícias, a mídia amplia a percepção da violência cotidiana, mas não aprofunda a compreensão crítica sobre ela.

Na verdade, a mídia faz parte do próprio fenômeno social e, ao explorar de forma exaustiva fatos de grande apelo popular, produz homogeneizações que não contribuem para uma tomada de posição reflexiva da coletividade.

Assim como a notícia é construída, os sentidos da violência têm um componente de construção social em que os indivíduos são levados a ver e a interpretar o fato partir de um modo como ele é analisado. A mídia atua nesta perspectiva: ao explorar a violência, não apenas publiciza o acontecimento, mas o faz a partir da mobilização de uma linguagem que tanto revela como mascara as possibilidades de compreensão profunda da realidade.

Geovani Jacó de Freitas
Sociólogo, professor do Curso de Ciências Sociais da UECE, e pesquisador do LEV – Laboratório de Estudos da Violência, da UFC e do COVIO – Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência, da UECE.

gilja@uol.com.br

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