As dimensões fundamentais da Vida são a Quantidade, Qualidade, Consciência, Valores, Crenças, Liberdade e Ética. Mas é o Amor que engrandece a Vida e a Memória que permite que ela seja lembrada para sempre. Esta, nas suas duas interpretações essenciais: capacidade anatomo-fisiológica de reter as idéias, nomes, impressões e conhecimentos adquiridos e, como lembrança, reminiscência e recordação.

Por isso achei excelente e muito oportuna a matéria sobre os cientistas Gordon Bell e Deb Roy, publicada na Veja Especial de Setembro (Tecnologia).

Excelente pela maneira como foi detalhada e agradavelmente escrita. Oportuna por tratar do assunto Memória (lembranças) de uma maneira moderna, atual e necessária.

Nós, brasileiros, não temos ainda o hábito do cultivo da Memória na guarda e preservação do passado e na possibilidade de ser usada para não repetir erros, mudar julgamentos e melhorar as nossas decisões. Em muitos países as pessoas desenvolvem a Memória como um elemento fundamental e inteligente da Vida, numa verdadeira demonstração de que não é suficiente apenas viver, é necessário que ela tenha valor para ficar na nossa lembrança, dos familiares, amigos e até da população, em muitos casos.

Sempre tenho dito que aquilo que não pintamos, escrevemos, cantamos, esculpimos, fotografamos, gravamos, filmamos, poetizamos, etc…, não existiu. Existe no momento e depois passa, é esquecido. O tempo passou e levou.

Principalmente nos jovens brasileiros vemos um total desprezo por guardar e perpetuar o acontecido. Depois, na velhice, comprovamos a tristeza de não ter guardado nada ou quase nada. E o que fazer, depois? Não lembramos, muitas vezes, nem o nome dos nossos antepassados próximos. Vocês podem imaginar como seria a nossa história sem memorialistas como Marciano Lopes, Nirez e Cristiano Câmara?

A informática nos possibilita guardar a nossa memória com muito maior facilidade. Como fizeram Bell e Roy. E aí o excepcional exemplo para todos nós na perpetuação dos dados e elementos de nossa vida. O Google constitui o gigante da internet que nos ajudará, cada vez mais, nessa empreitada.

Mas a alegria foi ainda maior ao comparar com a mesma idéia que tive em 1994 ao regressar do exterior. Desde então tenho arquivado tudo no meu Banco da Vida. São cerca de 40 gigabytes arquivados em HD e DVD’s, com fotos, documentos, webs visitadas, vídeos, apresentações em PowerPoint (aulas, conferências, palestras, projetos de organizações, etc.), músicas, cartas e e-mails, situações bancárias, diário de viagens, todos os programas de Rádio que tenho coordenado nesses últimos 10 anos (Novas Dimensões na Rádio AM-do Povo e Novas idades na Rádio FM-Universitária) e todos os artigos e livros que escrevi em todos esses anos.

Conforta-me saber que, mesmo que tudo isto não seja nunca conhecido do público, as palavras e os momentos que valeram a pena, estarão arquivados no meu HD e será parte do que deixarei como “lembrança” para meus familiares como minha Memória. Se alguém , algum dia, quiser saber…

Guimarães Rosa disse: “Se eu lembro, tenho”. Nada mais certo. Mas o lembrado precisa ser guardado.

* Artigo publicado no Jornal O Povo em 07.01.2009 e reproduzido neste site com autorização do autor. 

Antero Coelho Neto
– Médico e professor e diretor do IQVida
acoelho@secrel.com.br

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