Tenho sido relativamente repetitivo em meus artigos com citações das maravilhosas caminhadas mundo adentro. Mas são elas, que me levam a situações diversas e me elevam a patamares observatórios, inspirando a mente a produzir textos que refletem pensamentos que brotam no passar dos pés por calçadas, areias, asfaltos, becos, vielas, ruas, avenidas e beiras de mar.

Estou vivenciando um momento especial e por isso mesmo, caminhando por lugares diferentes dos que habitualmente transito. Em virtude do novo cenário já não compartilho da doce presença dos insetos, lagartixas, exuberante vegetação e chananas, tão presentes, que amigos são numa troca de energias mútuas que muito bem faz a este ser escrevinhador.

Adepto que sou da lei do contente ando feliz pelos novos caminhos, buscando com os olhos a amizade dos transeuntes, com o coração a cumplicidade dos passantes e, com a mente, a captação dos viventes, para que possa processar dentro de mim, a miscelânica vitamina da arte de viver, com a salutar pitada da doçura e a necessária digestão do bem querer.

E os novos trajetos apresentam um cenário com muitos seres, em situações complexas, remetendo meu pensar para julgamentos mistos. Sei que julgamentos revelam inferioridade espiritual, mas infelizmente, somos muitos nesta incômoda situação. Só aqueles que admiramos, que alcançaram elevados patamares espirituais, conseguiram transcender a arte de julgar, deixando que todos fluam como rios, naturalmente, para o oceano divino.

E neste julgar, que não é proposital, é até natural e não contém elementos depreciativos, vamos vendo uns e outros, achando isso ou aquilo, sempre a partir de nossos filtros interiores e de nossos valores adquiridos, numa seqüência interessante de seres claros e de seres escuros, aos quais disseco agora algumas considerações.

Os seres claros, que vamos encontrando no caminho, são percebidos claramente pela boca. Se não estão sorrindo de maneira explícita, estão com os músculos sempre armados para o gostoso desabrochar da arcada feliz. Eles gostam de elogiar, de dar um toque com as mãos gostoso e não invasivo, de incentivar as boas práticas e, tem sempre uma palavra de carinho reservada no coração.

Os seres claros são como postos de gasolina. Quando saímos de perto, nos sentimos sempre cheios de boas energias. Eles tornam a vida bela e a caminhada segue com a incorporação da felicidade, pois imprimiram em nosso coração, o que alguns chamam de amor, posto que significando vida plena, é isso o que fica deles em nós.

A caminhada também mostra os seres escuros, com suas conversas cheias de códigos, teorias de difícil compreensão, papos demorados e sinuosos, em tentativas constantes da obtenção de algo com o esconder de alguma coisa.

Enquanto os seres claros exalam um doce perfume, os seres escuros são sempre mal-cheirosos, insalubres, com gingados corporais extravagantes, exagerados adereços e hálitos repugnantes.

Sou do tipo que aceito qualquer conversa, convivo com todos e dou atenção aos seres de todos os naipes, mas, como falei anteriormente, não consigo ainda controlar a mente que julga esses seres escuros como carentes de espiritualidade, dignos de ajuda e que, urgentemente, devem aderir à estrada da vida saudável, abandonando vícios, corrigindo a linguagem e procurando mais dignidade para seus próprios seres, por vias mais límpidas, disponíveis que estão para todos, pela democrática graça da divindade, que a todos abraça e a todos quer bem.

Caminhando por aí, sorria para os seres claros, compartilhe com eles a maravilha que é viver e, podendo, ajude a acender uma luz dentro dos seres escuros, eles precisam ver cada vez mais claramente que a vida é bela e que o sol nasce para todos.

João Bosco Nogueira
– professor da Universidade Estadual do Ceará
bosco54321@yahoo.com.br

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