Como compreender e procurar viver o Evangelho, a partir das palavras de Maria no Magnificat? Quando Maria afirma, “O Poderoso fez em mim grandes coisas. Seu nome é santo e seu amor para sempre se estende, sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder de seu braço, dispersou os soberbos, derrubou os poderosos de seus tronos e elevou os humildes. Saciou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 49-53), num mundo em que “humanidade ocupou o templo com o deus mercado”, disse o presidente do Uruguai Pepe Mujica, angustiado e preocupado com o futuro, dizendo:  “Primeira tarefa é salvar a vida humana”.


Alegres e na grande esperança de filhos de Deus, celebramos o mês de maio, mês de Maria, aquela que carregou no seu ventre a Palavra de Deus encarnada e, depois da superação da morte, encontra-se no céu, para alegrar a corte celeste e nos dar a certeza de que ela intercede por nós e também nos aguarda, para que possamos desfrutar de sua companhia materna, na feliz eternidade, juntos do Pai.


É importante olhar para Maria como uma mulher corajosa e revolucionária, afinada e ajustada por Deus, no projeto de salvar e restaurar a humanidade. Ela foi escolhida na sua simplicidade e disponibilidade de humilde servidora. A fé de Maria foi indispensável, no sentido de acolher a vontade de Deus e dela participar, plena de confiança, a ponto de Isabel proclamar em alto e bom tom: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45).


Hoje somos os destinatários e protagonistas da alegria, outrora anunciada pelo Anjo do Senhor, no contentamento e na esperança, pela feliz e providencial palavra do Papa Francisco, na sua primeira homilia, em Aparecida–SP, (24/07/2013): “Conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver a alegria”. Que Maria interceda por nós, com a graça de sermos surpreendidos, diante da realidade crítica e sofrida pela qual passa a humanidade, na assertiva de Mujica, ao discursar na ONU: “Pensem que a vida humana é um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico é acima de todas as coisas, impulsionar e multiplicar a vida e entendermos que a espécie somos nós” e concluiu: “a espécie deveria ter um governo para a humanidade que supere o individualismo e crie cabeças políticas”.


É com o mesmo espírito, no olhar da mesma fé que Maria acolheu no seu ser o Verbo Encarnado, através do belo e extraordinário cântico de ação de graças, ao agradecer pelas maravilhas nela operada, pelo Senhor de todos os dons, quando olhou para humildade de sua serva, na sua simplicidade e pequenez (cf. Lc 1, 13-14). A Igreja, comunidade formada pelo trinômio, fé, esperança e caridade, deve se esforçar para compreender como profecia a seguinte exortação de Mujica: “É preciso entender que os indigentes do mundo não são da África, ou da América Latina e sim de toda humanidade que, globalizada, deve se empenhar no desenvolvimento em favor da vida”.


Dante Alighieri (1265-1321), o grande Poeta, o sumo poeta, da genial obra Divina Comédia, atribui a São Bernardo de Claraval como seu guia no paraíso, colocando nos seus lábios a bela saudação à Santíssima Virgem Maria: “Tu, ó Virgem, és tão valiosa na intercessão, de tal modo, que quem quiser alcançar uma graça, sem recorrer a ti, é semelhante a uma ave, que tenta voar sem asas”. Também mencionando Michelangelo (1475-1564), pintor, escultor, poeta, arquiteto e gênio italiano, ao retratar de um modo indizível este tema, através da arte, na qual a Virgem Maria, nas sete dores sofridas com o corpo do seu filho Jesus, morto nos seus braços, após a crucificação, com dores enormes, representando as dores da humanidade.

*Padre Geovane Saraiva integra a Arquidiocese de Fortaleza. É escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – geovanesaraiva@gmail.com

 

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