Os amantes da justiça e da paz, em todo o mundo, e em especial no Nordeste brasileiro, comemoram com entusiasmo o centenário do cearense mais ilustre do século XX. Trata-se de dom Hélder Pessoa Câmara, nascido em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909, décimo-primeiro filho de uma família de classe média.Aquele menino pequeno e franzino entrou no Seminário Diocesano de Fortaleza com 14 anos de idade, sendo ordenado padre aos 22 anos, no dia 15 de agosto de 1931, com autorização especial do Vaticano, pois não possuía a idade mínima exigida. Desde cedo demonstrou interesse pelo trabalho com os mais humildes e excluídos da sociedade, tendo fundado, no mesmo ano da sua ordenação, a Legião Cearense do Trabalho, e, dois anos depois, a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congregava as lavadeiras, engomadeiras e empregadas domésticas.

Em 1936, o padre Hélder transferiu-se para o Rio de Janeiro, dedicando-se às atividades apostólicas. Aos 43 anos foi ordenado bispo, sendo nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952.

Estes dados iniciais, com todas as minúcias, destinam-se a um certo desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, da 7ª Região, que disse não saber quem era dom Hélder Câmara. Isto para justificar a injustificável retirada do nome daquele sacerdote do prédio anexo ao Fórum Autran Nunes, no Centro da capital cearense, para colocar o do seu pai já falecido, como ele desembargador. Indignada, a desembargadora Dulcina Palhano retirou-se em sinal de protesto. A reação de vários segmentos da sociedade foi tamanha que a decisão foi revogada pelo mesmo placar de quatro a três.
Dom Hélder foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), tendo destacada atuação no Concílio Vaticano II,oportunidade em que foi um dos propositores e signatários do Pacto das Catacumbas, que teve forte influência na Teologia da Libertação.

Ao chegar à capital pernambucana em 1964 para assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife, foi recepcionado por uma multidão, mas também por oficiais do 4º Exército que lhe apresentaram uma lista de religiosos – padres, freiras e leigos – que deveriam ser transferidos para bem longe. Ao receber a lista, dom Hélder ironizou, afirmando que faltava um nome. Logo um general perguntou: mas quem? E ele respondeu: o de dom Hélder Câmara.

Se os generais golpistas já olhavam para dom Hélder com desconfiança, em função das suas posições progressistas e, principalmente o seu compromisso explícito com os excluídos da sociedade, a partir daquele momento passaram a odiá-lo, impedindo-o até de ter acesso aos meios de comunicação.

Ao exigir a abertura democrática no Brasil e denunciar, aqui e lá fora, os crimes da ditadura militar, os generais golpistas passaram a persegui-lo e até ameaçá-lo de morte. Sua casa em Olinda – a sacristia da igreja – foi metralhada em 1970 como forma de amedrontá-lo, mas dom Hélder continuava mais firme ainda na defesa da democracia e dos direitos humanos.

Pela sua incansável luta em defesa da justiça e dos direitos humanos, dom Hélder teve seu nome quatro vezes indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz. No entanto foi preterido as quatro vezes em função das pressões dos militares golpistas que se utilizavam de empresários venais e reacionários como o dono do jornal O Estado de São Paulo, Júlio Mesquita, que foi a Oslo pressionar o comitê designado pelo parlamento norueguês.

Para homenagear a pessoa e as obras do Arcebispo Emérito de Recife e Olinda, a Arquidiocese de Fortaleza realizará no próximo sábado 7 uma Celebração Eucarística em comemoração aos 100 anos de nascimento do Dom na paróquia de Santo Afonso, na Parquelândia.

*Artigo publicado em 04.04.09 no jornal O Estado e reproduzido nesse site com autorização do autor.

Messias Pontes
– Jornalista
messiaspontes@gmail.com

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