Todo ser humano tem necessidade de se transformar. É uma decorrência da evolução histórica e natural da nossa espécie. As mudanças são parte do cotidiano do homem e o afetam diretamente, criando novas demandas para sua existência e bem-estar. Nos adaptamos ao mundo e inserimos nele, ao mesmo tempo, algumas transformações também, num ciclo infinito no qual a única coisa constante é a mudança.

Mudados todo o tempo. Nosso corpo se transforma da infância à velhice, todos os dias. Nossos órgãos têm suas células completamente renovadas de tempos em tempos, de forma que um ser biológico novo vive é construído em cada um de nós, renovando-se nosso corpo físico periodicamente. Mudamos também pelo nosso amadurecimento pessoal, em nossos costumes, nossos gostos, nossas companhias, nosso poder aquisitivo, nossa vida enfim.

A mudança a única coisa realmente constante na vida e acontece conosco física e mentalmente, independentemente da nossa vontade. Todavia, apesar de vivermos nos transformando e transformando o mundo que nos rodeia, o ser humano desenvolveu uma enorme resistência às mudanças mais essenciais da vida, justamente aquelas mais necessárias para garantir seu desenvolvimento pleno e sua busca de felicidade. Consegue-se conviver com transformações climáticas drásticas, com engarrafamentos que não existiam, com novos vizinhos, com um novo emprego, mas é dificílimo admitir qualquer transformação significativa em relação aos próprios pensamentos e sentimentos.

Na verdade algumas pessoas criam verdadeiros bloqueios contra a autotransformação. Podem ser seres sociais de relevo, ter condições econômicas invejáveis e até parecerem externamente felizes, mas internamente apodrecem sentimentos inúteis e destrutivos. Poucos têm a capacidade para fazer uma auto-análise sensata e descobrir o que há de mofado em seu pensar e sentir. Preferem se agarrar a falsa segurança de confortos provisórios a se aventurar em novas situações emocionais desconhecidas.

Tenho tido a oportunidade de lidar com pessoas que se agarram em suas situações atuais com uma força insana. Temem mudar. Não admitem sequer uma mera reflexão sobre sua conduta, nascida e embalada pelo vento turvo dos pensamentos descontrolados. Muitas preferem se manter na segurança de uma realidade um pouco infeliz, digamos, dentro de parâmetros “toleráveis” de infelicidade. Ficam administrando uma infelicidade admitida como decorrência natural da vida e se negam ao risco da transformação por medo que a mudança possa trazer mais infelicidade, em níveis maiores.

A pergunta que se pode fazer para medir qual nossa resistência à mudança é “onde você está?”. É uma decisão radical, mas de uma simplicidade desconcertante: olhar para si mesmo e em cada aspecto relevante de sua existência ver quais são os sentimentos dominantes. Um olhar que não seja indolente, que não tenha comiseração por si mesmo, nem que seja exageradamente rude e exigente.Apenas um olhar carinhos o para alguém muito especial, que é você, para auxiliá-lo a ver o que precisa ser transformado.

Então, nosso passo em direção a verdadeira felicidade é assumir sua natureza essencial de pessoa em eterna mutação e buscar as transformações necessárias em cada área, seja afetiva, financeira ou social. Quais as coisas que gostaria de sentir e viver que não estão presentes na atual realidade? O que seria interessante mudar na sua vida? Você estará começando a descobrir a onde você está. Em breve poderá decidir para aonde quer ir, em busca das potencialidades infinitas de felicidade que o universo propicia. Acredite.

* Artigo publicado em 30.01.09 no Jornal O Estado e reproduzido neste site com autorização do autor.

Sávio Bittencourt
Promotor de Justiça (RJ). Formado em Direito (Universidade Federal Fluminense – UFF). Mestre em História Social (Universidade Severino Sombra – USS).
savio.estado@terra.com.br

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