“A tolerância é a mais difícil das disciplinas”. A frase, atribuída a Buda, resume bem um problema que acompanha a humanidade há séculos, inclusive no universo das religiões.


Provavelmente, neste exato momento, conflitos religiosos estão ocorrendo em diversas partes do mundo. Muçulmanos contra cristãos, cristãos contra muçulmanos, hindus contra budistas, budistas contra muçulmanos, muçulmanos contra hindus, entre outros inúmeros conflitos, às vezes seguidos de atentados terroristas, tanto em países ricos como em países pobres. É, o universo das religiões é complexo e sempre foi um tema complicado de se abordar.


É preciso um grande esforço para entender o outro, o diferente e, com o conhecimento adquirido desse outro, desenvolver a tolerância para melhorar o mundo e nossas vidas. Mas dá pra falar em diálogo inter-religioso? Penso que sim.


Em janeiro foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, e em fevereiro a Semana Mundial da Harmonia Inter-religiosa, data criada pela ONU há alguns anos com o intuito de estimular o debate público sobre a importância do diálogo inter-religioso em todo o mundo.


A grande imprensa não destacou esta última data, mas nem por isso deixou de abordar o tema, sobretudo por conta dos recentes eventos envolvendo ações de grupos radicais terroristas, principalmente as que ocorreram na França e as decapitações comandadas pelo grupo conhecido como ISIS ou EI (Estado Islâmico), que atua na Síria e no Iraque; assim como no norte da Nigéria, onde age o grupo Boko Haram, cujo nome traduzido seria algo como “a educação ocidental é pecaminosa”. Em todos os casos, os autores das barbáries mencionam a religião e a fé como justificativa de seus atos, citando passagens do Alcorão – livro sagrado dos muçulmanos – de forma equivocada, fora de contexto e com distorções, a fim de justificar seus crimes.


Deveria ser óbvio, mas é importante destacar que a imensa maioria dos muçulmanos condenou de forma veemente todos os ataques feitos por terroristas que se intitulam seguidores do Islamismo e que pretendem impor sua fé e religião sobre todos os povos. Interessante notar que no próprio Alcorão encontramos a seguinte passagem atribuída a Maomé, fundador do Islamismo: “Não deve haver coerção nos assuntos da fé”.


Trazendo o assunto para nosso país, observa-se que o tema religião aparece bastante no meio político, sendo até protagonista em algumas discussões presentes nas pautas do Legislativo em níveis federal, estadual e municipal. Observa-se também que a intolerância religiosa ainda é um problema no Brasil. Mas o intuito não é falar sobre o mau uso da religião, até porque os bons exemplos superam os ruins. Basta ver os inúmeros trabalhos desenvolvidos pela maioria das religiões e seus seguidores, com grande e positivo impacto social, o que também demonstra que temos muito a ganhar com a união e a tolerância.


Em um momento tão conturbado, nota-se uma necessidade urgente de ampliarmos o diálogo, inclusive dentro das salas de aula, porque o conhecimento sobre religiões é muito útil num mundo globalizado em que as pessoas viajam cada vez mais para lugares em que valores e modos de viver são diferentes.


As questões sobre a obrigatoriedade ou não do ensino religioso têm aparecido com frequência em discussões públicas. Polêmicas à parte, penso que o mais importante é que os professores aproveitem a oportunidade de levar conhecimento aos alunos de forma imparcial e sem preconceito, destacando que todas as religiões, cada uma a seu modo, exaltam a compaixão, a paz, a sinceridade, a honestidade e a humildade, entre outros valores que certamente ninguém contesta como fundamentais para um mundo melhor. Precisamos aumentar nosso conhecimento e combater o preconceito a fim de realmente conseguirmos conviver em harmonia, sem a necessidade de impor nossa “verdade” sobre a “verdade” do outro. Basta focar nos valores já mencionados, incontestáveis em qualquer lugar.


Deveríamos lembrar mais vezes da didática parábola do Bom Samaritano, texto simples, mas repleto de sabedoria. Nele, Jesus demonstra como o próximo e aquilo que se deve fazer ao próximo são conceitos que independem da religião. O texto é conhecido e a regra é simples. Por que não lembrar?


É preciso perceber que o que nos divide é pequeno quando comparado com o que nos une. E num mundo com tantos problemas, ser o dono da razão não deveria ser prioridade.

* Fábio Mantezi Weissmann é Analista de Produto na empresa Planneta (www.plannetaeducacao.com.br). Formado em Relações Públicas, com experiência na área de Comunicação e foco em educação, ciência e tecnologia. Contato: fabio.mantezi@vitaebrasil.com.br

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