Nos dias atuais o que podemos observar é que a solidariedade se acha amordaçada por poderosos grampos em decorrência dos medos criados por nossas mentes ardilosas que desejam apenas a prevalência da indiferença. Ninguém é capaz de entender as feridas alheias, ninguém é capaz de parar um pouco para pensar nas dores que escorrem pelas favelas, onde o canto da rotina é espelhado na lágrima de alguém que busca apenas um pouco de dignidade.


 


A piedade se fez indiferente, e em decorrência de tudo isso os muros cresceram de acordo com o medo, as grades foram colocadas nas janelas, o ritmo de cada é se isolar de um mundo que antes era belo e hoje provoca medo.


 


As belezas que eram eternizadas pelos vizinhos sofreram uma transformação, onde a desconfiança se tornou sinônimo do que existe de pior, e muitas das vezes apenas uma parede que separa do vizinho se transformou em longa distância. Os caminhos que antes eram tão curtos para chegar aonde a necessidade gritava, se encantaram e muitos fazem questão de não ouvir, e nem sentir a dor que lhe é tão próxima que se perdeu num túnel sem luz.


 


As mensagens foram distanciadas e escassas, já não perguntam por alguém ou tentam buscar noticias dos seus, todos se perderam na estada do desencanto e brilhante luz que mostrava o caminho se fechou em circuito. A consciência de lutar para um mundo melhor se diluiu, tudo se transformou em uma nau sem destino, e os homens buscaram cavar a sua própria sepultura por não entenderem que a consciência é a presença de Deus no homem.


 


As virtudes se desconheceram, o milagre da bondade se fez perdido, o perdão se transformou em tapete, onde os homens passam e levam consigo o ódio permanente, a pureza que era uma pedra bruta se banalizou.


 


O respeito, considerado sentimento maior que parecia diferenciar o homem dos animais, foi destroçado e transformou a imagem e semelhança em farrapos humanos que perambulam vestidos de drogas e mentiras.


 


A responsabilidade de lutar por um mundo mais belo foi sepultado e as acusações passam de mão em mão sem chegar ao verdadeiro causador dos desmandos, e das misérias que ferem e machucam.


 


A retidão desnudou o homem, muitos se  trocaram por riquezas ilícitas, e se transformaram em buquês de rosas artificiais que não cheiram, e nem mostram a beleza da verdade. Sabemos que não é a valentia física que conta.É preciso ter coragem para enfrentar a vida como é;ultrapassar as tristezas; eliminar as incertezas,e sempre sacrificar-se em beneficio dos outros.


 


* Rossana Brasil Kopf é psicanalista


 


Artigo publicado no jornal O Estado e reproduzido neste site com autorização da autora


 

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