A bailarina, coreógrafa e professora cearense Sílvia Moura, com 50 anos de idade, completados no final do ano passado, entra 2015 comemorando 40 de carreira. Para celebrar, estréia nesta quarta-feira (14), no Teatro Carlos Câmara, a Temporada de Dança – Especial Sílvia Moura 40 Anos de Dança. Até o final do mês, todas as quarta-feiras, o público poderá rever ou conhecer espetáculos-solo da artista que criou o CEM – Centro de Experimentações em Movimentos e tem atuação destacada em favor da arte e cultura do Ceará, como um dos nomes do MAR – Movimento Arte e Resistência. Instigante, sensível, profunda e provocadora, Sílvia tem levado aos palcos, seja em teatro ou nas ruas, questões como a  subjetividade de ser mulher (“A cadeirinha e eu”), a relação dos humanos com a cultura do descartável, incluindo os sentimentos, na contemporaneidade (“Anatomia das Coisas Encalhadas”) e o complexo viver nos centros urbanos (“Corpo-Lixo-Cidade”). Para a Agência da Boa Notícia, ela contou um pouco de sua trajetória.


 


Agência da Boa Notícia  Que sentimentos você tem ao chegar na marca dos 40 anos de dança?


Sílvia Moura  – Pra mim é um marco, nunca pensei muito nisso, vou fazer tantos anos de dança, porém  ao completar meus 50 anos, me dei conta que 40 desses  50 , foram dedicados a dança, e isso foi muito impactante.


 


ABN – Que primeira lembrança você tem da dança tocar sua sensibilidade?


Sílvia Moura – Eu comecei a dançar muito cedo, e foi nas aulas. Eu me sentia muito bem, mas tive muitas experiências de sensibilidade com a dança, comecei a ser tocada mais profundamente quando tomei contato com a dança que viria a ser o que hoje chamamos de dança contemporânea, nos anos 80.


 


ABN – Como foi sua trajetória de formação na dança?


Sílvia Moura – Iniciei como quase todos da minha época: na escola em que eu estudava e, depois, em academias e só mais tarde em cursos livres e técnicos.


 


ABN – Quem inspirou e inspira você?


Sílvia Moura –  Eu sempre me inspirei em quem dança com alma, as danças que me tocam ou que se comunicam com a minha verdade, pode ser em qualquer estilo, se eu sinto força e verdade e não apenas forma. Dificilmente me toca só a forma, só a técnica, acho bonito, respeito, mas raramente consegue me tocar.


 


ABN – Quais os maiores desafios para viver da dança no Ceará? E como você vem enfrentando?


Sílvia Moura – Os desafios são muitos: falta continuidade em políticas públicas que possam ser apoio para quem vive exclusivamente de dança; o mercado é restrito e o que não cabe no eixo comercial tem muita dificuldade de se manter em cena; poucos espaços para circulação dos trabalhos. Eu invento formas de existência, e vou existindo de uma maneira quase mágica ao longo desses 40 anos.


 


ABN – Se pudesse escolher um,  qual o momento nessa carreira de 40 anos que você considera mais representativo de sua arte?


Sílvia Moura – Muitos momentos foram significativos. Este agora é muito importante, estou me dedicando ao meu trabalho solo, é um momento delicado e que tem muitos desafios. Quando comecei a coreografar trabalhos meus, sem relação com festivais de academia, em 1988, foi também muito importante.


 


ABN – Pode dar mais detalhes sobre o Especial Sílvia Moura 40 anos? Quantos espetáculos e dados sobre cada um deles?


Sílvia Moura – É uma forma de falar em cena sobre essa trajetória, por isso escolhi alguns trabalhos e não apenas um, apresentarei o mais novo – “A beira de… “ ,  e outros   como o “Anatomia das Coisas Encalhadas”,  “Engarrafada” e o “Instalaformance I –Vestida de Luz”, que é um trabalho que foi pouco apresentado aqui. Todos são solos.


 


ABN – Há previsão de outras apresentações depois da temporada no Carlos Câmara?


Sílvia Moura – Estou inserida no projeto Plataforma de Circulação, com apoio da Petrobras, que prevê apresentações em Fortaleza e mais seis cidades do Ceará, de janeiro a março. Vou circular com três trabalhos – “Anatomia das Coisas Encalhadas”,  “A beira de… “ e o de rua Corpo-Lixo-Cidade – e em fevereiro estarei ,dia 12, no Centro Cultural do BNB com o “A beira de… “


 


ABN – Você é uma das articuladoras do MAR – Movimento Arte e Resistência, que liderou ações como ocupação da Praça do Ferreira por vários dias para reivindicar mais atenção para a Cultura e Arte em suas mais diversas formas de expressão. Como avalia os resultados das atividades do MAR?


Sílvia Moura – Acho que o MAR deu uma visibilidade e respeito a organização dos artistas como um todo, mostrou que podemos ser organizados e pautar nossas necessidades , exigir do poder público aquilo que é fundamental para os avanços da nossa cultura, mostrou que amadurecemos, que saímos do lugar de só reclamar e pedir dinheiro, ficar de pires na mão como diziam de nós. Evoluímos, aprendemos a questionar, a planejar, a avaliar e a exigir, e o Governo entendeu que terá que nos tratar de outra forma.


 


ABN – Quais suas expectativas com relação à nova gestão da Secretaria da Cultura do Estado?


Sílvia Moura – Eu acho que temos uma chance de avançar em vários aspectos. O Governador demonstrou que dará à pasta da cultura uma importância significativa no seu governo e escolheu dentro da política uma pessoa que realmente tem envolvimento com a questões referentes a Cultura. O Guilherme Sampaio não é meramente uma indicação  política. Vem  estudando e contribuindo com a elaboração de leis municipais, com o Conselho Municipal e, em vários momentos que estivemos em discussão, ele se fez presente e atuante. Tenho esperança que seja um bom momento de construções sólidas e coerentes com as nossas demandas. E sei que nada se fará se nós, artistas, não estivermos atentos, acompanhando e exigindo quais são as nossas necessidades e prioridades, é um trabalho que terá que ser feito – Governo e Sociedade Civil juntos, não tenho nenhuma dúvida disso, sempre teremos que batalhar por melhorias, ainda há muito a se fazer pra chegar em condições mínimas de sustentabilidade e construção de uma política pública permanente para a nossa área.


 


Serviço


 


Temporada de Dança – Especial Sílvia Moura 40 Anos de dança


Onde: Teatro Carlos Câmara – Rua Senador Pompeu, 454 – Centro – Fortaleza-CE 


Quando: Janeiro/2015


Dia 14 – 19h – Engarrafada – A beira de…


Dia 21 – 19h – Instalaformance I – Vestida de Luz


Dia 28– 19h – Anatomia das coisas encalhadas – Plataforma de Circulação de Artes Cênicas do Ceará


Fones: (85) 3254 5552 – 3254 5980

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