A república de acolhimento, sediada em Fortaleza, é uma iniciativa da sociedade civil organizada e surgiu com o objetivo de “acolher para interromper ciclos de morte”.

Fundada em 2020, em um dos momento mais críticos da pandemia de covid-19, a Outra Casa Coletiva completa três anos de atividade continuada e vem se consolidando como centro de acolhimento e cultura. Sediada no bairro Benfica, em Fortaleza, a organização mantém um programa temporário de residência com foco no atendimento de pessoas LGBTQIA+ vítimas de violência ou abandono. A equipe voluntária é multidisciplinar e oferece apoio psicossocial, atendimento jurídico e suporte à inclusão no mercado de trabalho, com orientação curricular e indicações de formações profissionais.

O projeto caminha para expandir seu núcleo de saúde para além dos cuidados em saúde mental já oferecidos. É o caso da parceria estruturante com o Projeto Amparo, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC), que oferece a realização de exames laboratoriais de check-up, e do futuro programa de atendimento clínico que vai ser disponibilizado na Casa por uma iniciativa do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Periodicamente, a sede do projeto recebe ações de aconselhamento e testagem de IST/AIDS, realizadas por equipes da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza.

“Celebrar três anos de atividade continuada de um projeto como esse não é pouca coisa”, destaca Ari Areia, fundador da Outra Casa Coletiva. “A gente comemora a cada mês que conseguimos fechar as contas, arcando com os compromissos que assumimos para manter essa Casa de portas abertas, esses três anos são uma vitória”. Ari pontua que a estrutura física da casa conta com capacidade de atendimento de até 10 pessoas acolhidas simultaneamente, mas que a equipe tem mantido um teto de cinco a seis acolhidos, por questões objetivas de manutenção. “Nosso desejo é chegar ao final deste ano com condições de funcionamento em capacidade máxima, mas para isso precisamos do abraço de força de mais pessoas”, reforça.

Em 2022, a Outra Casa Coletiva acolheu 107 pessoas que se viram sem casa por motivos diversos, todos eles por motivação LGBTfobia. O relatório de atividades da gestão do projeto mostra que, desse quantitativo, a maioria foram homens cis gays (42,45%), seguido por mulheres trans (27,36%), mulheres cis lésbicas (16,98%), homens trans (9,43%) e pessoas não binarias (3,77%). A idade média das pessoas atendidas no centro de acolhimento é entre 21 e 23 anos. Atualmente a casa funciona com quatro pessoas acolhidas e disponibiliza duas vagas.

“Quando eu ‘saí do armário’ há 13 anos, também me vi sem casa”, lembra Ari Areia, “naquela época, se não fosse uma rede de apoio que segurou a minha mão, eu não sei como as coisas teriam caminhado na minha vida.” O ativista pontua que essa realidade não ficou no passado, “ainda há muitas famílias que reagem mal quando os filhos e as filhas contam se sua sexualidade ou identidade de gênero, todas as semanas chegam casos assim para a gente”, frisa,”alguns são bem graves com quadro de violência doméstica”. Manter a Outra Casa Coletiva como uma porta aberta para as LGBTs no Ceará se tornou uma missão de vida para a equipe de diretoria e voluntariado do projeto.

Homenagem e Festa
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará vai realizar uma sessão solene em
homenagem aos três anos de continuidade do trabalho realizado pela Outra Casa Coletiva.
A iniciativa é da deputada Larissa Gaspar (PT) e acontece nesta segunda-feira (05) a partir
das 17h, com acesso livre. Na quarta-feira (08), a Casa abre as portas de sua sede no
Benfica com teatro e música. A programação tem início às 19h com apresentação do
monólogo Expurgo, de Ari Areia, seguida de shows e apresentações de DJs. O acesso é
livre, sem ingresso, com contribuições voluntárias para o projeto.

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