A Campanha da Fraternidade proposta, anualmente, quando do período quaresmal, pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, conclama o povo cristão e não cristão brasileiro a viver mais intensamente a “cidadania evangélica”, objetivando dar de si algo em prol dos grandes flagelos do nosso país. Constitui-se, certamente, num momento singular como preparação para melhor se celebrar a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A Quaresma, portanto, pontua-se num tempo de mudança interior, ajustamento em nossa maneira de pensar, sentir e agir, sermos mais fraternos, solidários, assumindo o compromisso de construção de uma sociedade mais justa, equânime e cidadã. A Campanha da Fraternidade (CF) para 2009 tem como tema: “Fraternidade e Segurança Pública”.
Atenta à gravidade atual da violência reinante nos grandes centros urbanos, a CNBB conclama autoridades governamentais e sociedade organizada, buscando soluções conjuntas, coordenadas entre ambas, ultimando encontrar soluções mais efetivas, contínuas e imediatas para combate exaustivo a esse grave problema assolador da população brasileira – segurança pública.
Segundo dados registrados pelo Relatório Global das Nações Unidas, 70% dos brasileiros pesquisados, recentemente, referendam “o medo” como angústia atual da sociedade hodierna. O foco central da Campanha da Fraternidade tem como escopo, portanto, suscitar amplo debate sobre segurança pública e, singularmente, contribuir para a promoção da “cultura da paz” nas pessoas, no âmbito familiar, na comunidade, nas escolas e na sociedade. A equação do angustiante problema passa pelo empenho efetivo voltada para construção da justiça social, que seja garantia de segurança para todos, indistintamente.
Para a CNBB, o esboço da Campanha da Fraternidade foi alicerçado em dupla estratégia. O primeiro elemento foi o debate democrático sobre o tema básico, através de seminários, diálogos com os diversos órgãos e instituições representativas do poder público e sociedade, visando conscientizá-los das causas e efeitos dos gravíssimos problemas relacionados com a segurança pública e fomentar uma responsabilidade pessoal e comunitária ante esses problemas.
O outro elemento relevante é implementar a promoção da “a paz é fruto da justiça” entre as pessoas, hoje, percebida, cada vez maior e mais, pela cultura da guerra religiosa entre Israelenses e Palestinos, exclusão social de 15 milhões de brasileiros analfabetos, outros 45 milhões que vivem abaixo da linha de pobreza, enfim, suscitar um engajamento da sociedade e autoridades governamentais para redução de tais índices sociais inadmissíveis no mundo globalizado.
A verdadeira guerra é desenvolver a cultura da paz, sim, a cultura da não-violência, não significando passividade diante dos problemas, mas, ações práticas e objetivas diante de tais conflitos, a tolerância ampla às diferenças e, sobretudo, valorização da dignidade humana. Como instrumento maior dessas variantes, fica claro o fundamento necessário para a conquista da segurança pública: a justiça social como obrigação de todos, indistintamente. Numa outra visão objetiva, enfrentar a violência urbana não se constitui tão somente em se colocar mais polícia na rua, mas, estimular o poder público, como responsável maior, a implantação de programa sociais de combate à fome, miséria, geração de emprego e renda, educação qualificada em todos os níveis, enfim, criar uma “consciência cidadã” de que cada cidadão brasileiro é responsável em contribuir para esse objetivo de paz.
*Artigo publicado em 26.01.09 no Jornal O Estado e reproduzido neste site com autorização do autor.
João Gonçalves
– Membro da Academia Limoeirense de Letras
boscogoncalves@uol.com.br