O Grande Bom Jardim – que reúne os bairros Siqueira, Canindezinho, Granja Portugal, Granja Lisboa e Bom Jardim –, em Fortaleza, costuma aparecer na mídia por seus índices de violência.  “Eles mostram apenas o lado ruim, mas temos muita gente do bem nessa comunidade. Perdi muitos amigos para as drogas e para o crime, mas sempre sonhei em montar um polo de informática no Bom Jardim.” Quem fala assim é Antonio Marques Filho, 33 anos, idealizador do Projeto Bom Jardim Conectado, gerido pelo Conselho Comunitário dos Moradores do Parque Santa Cecília (CCMPSC) e aprovado pelo Edital Ponto de Cultura (Secretaria da Cultura do Estado e Ministério da Cultura). Em janeiro deste ano, Marques Filho concretizou o desejo de conhecer o Vale do Silício, região da Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão implantadas as mais inovadoras empresas de tecnologia. Foi conhecer outras experiências para implantar no projeto.


No intercâmbio de 30 dias nos EUA (Berkeley-Califórnia), Marques visitou empresas como Google, Facebook, Microsoft, Apple, AMD e Intel, além das prestigiosas universidades da Califórnia e Stanford. Voltou com mais sonhos que, vindos dele, são realizáveis.  “Sonhamos que o Bom Jardim seja um polo de oportunidades e não de violência. Buscamos parcerias para, juntos, exportar tecnologias da nossa comunidade para o mundo”, diz com convicção. Sua trajetória é exemplo que inspira jovens e adultos.

 

Com 13 anos, Marques Filho chegou ao Bom Jardim, vindo de Jericoacoara, no litoral oeste do Ceará, para fazer um curso de montagem e manutenção de computadores no Serviço Nacional da Indústria (Senai). Logo entrou para o mercado de trabalho na área da informática. Em seis meses, comprou uma moto para conseguir dar conta da demanda de instalações de computadores. Com grandes sonhos, trabalho, estudo e vontade de compartilhar o que aprende, Marques não para.

Voluntário


Mal saído do Senai e trabalhando duro para garantir seu sustento, Marques encontrava tempo para ministrar, como voluntário, cursos de informática no Bom Jardim. Seu objetivo era mostrar como a informática estava mudando sua vida e poderia mudar a de outros jovens. Depois do curso técnico, ingressou no curso superior de Análise de Sistemas, na FGF (Faculdade Gama Filho, que passou a se denominar Faculdade da Grande Fortaleza).  A partir de um blog, idealizou o Bom Jardim Conectado. No blog eram postados conteúdos das aulas e eventos de informática. Nessa época, em 2007, jovens da comunidade foram capacitados em cursos de web design, programação para internet, desenvolvimento de sites e sistemas para internet, computação nas nuvens. Marques ministrava também cursos de informática para adultos.


Segundo Marques Filho, a idéia do Bom Jardim Conectado, como projeto maior, “nasceu na transição de aumentar a capacidade postagem do blog, criando uma plataforma de comunicação na comunidade e transformando em um portal de notícias do Bom Jardim”, relembra.

 

Em 2010, apresentou o projeto do Bom Jardim Conectado como trabalho final no curso de especialização em Tecnologia da Informação, na Universidade Federal do Ceará. “Mergulhei nos estudos e trabalho, às vezes saia da faculdade direto para fazer instalações…e tinha que acordar as 6 da manhã, tinha que pagar as mensalidades da faculdade e da moto e ainda ajudava minha família. Com essas instalações cheguei a comprar casa, carro e terminar minha pós-graduação”, relata.


Ainda em 2010, Marques mobilizou a comunidade e levou quatro jovens do Bom Jardim para um congresso de informática na Universidade Federal do Rio de Janeiro. E como ele mesmo reconhece: “o sucesso não parou”. Passou a ser convidado para falar sobre o Bom Jardim Conectado em eventos em instituições como o Instituto Federal do Ceará (IFCE), Universidade de Fortaleza (Unifor), Faculdade Cearense (FAC) e UFC. Em 2011, o projeto foi um dos participantes do Festival Internacional de Cultura Digital no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.

Feiras de Cultura Digital


“No mesmo ano, participamos do edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará  – Secult e fomos contemplados com um Ponto de Cultura, onde temos como meta principal realizar seis feiras de cultura digital na região do Grande Bom Jardim”, recorda.  Em 2013, foi organizada a I Feira de Cultura Digital, no Centro Cultural Bom Jardim. O evento, que em maio deste ano chegará à terceira edição, é uma oportunidade de reunir profissionais e estudantes para discutirem as tendências da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no mercado de trabalho, promovendo o intercâmbio entre as instituições (universidades; institutos; escolas; centros socioculturais) e a comunidade do GBJ. Tem o objetivo também de ser um espaço de divulgação das atividades culturais, notícias e pesquisas locais.


A Agência da Boa Notícia teve a satisfação de ser uma das entidades convidadas para a primeira Feira e foi representada pela diretora de Comunicação, jornalista Angela Marinho, que falou sobre a responsabilidade dos profissionais de comunicação e dos meios diante do estado de violência que a sociedade brasileira vive. Ângela também destacou o trabalho da ABN em incentivar a Cultura de Paz pela comunicação. A II Feira de Cultura Digital foi promovida em dezembro de 2013 na Escola Estadual CAIC  – Maria Alves Carioca.

Equipe conectada


O Bom Jardim Conectado está sediado na ONG Conselho Comunitário dos Moradores do Parque Santa Cecilia  (CCMPSC), na Rua Oscar Araripe 2173 – Bom Jardim, ao lado do ABC. De acordo com Marques, apenas em 2012 o Projeto passou a receber o recurso do Ponto de Cultura. Os membros são voluntários e apenas três pessoas recebem apoio do edital.  Junto com Marques Filho, tocam o Projeto Luciana Gomes, historiadora; Jenuilma de Souza, pedagoga; e Onete Costa, presidente da ONG.

 

O ano de 2014 começou bem. “Realizamos mais um sonho. Dessa vez quebrando todos os paradigmas de sair do bairro Bom Jardim para visitar o maior polo de informática do planeta, Vale do Silício nos Estados Unidos”, ressalta Marques. Seu trabalho para melhorar o bairro que o recebeu há 20 anos é incansável. “Aqui temos muita mão de obra, metade da população é jovem. Eles ficam muito tempo na ociosidade e sem perspectiva, eu gostaria que eles tivessem pelo menos uma oportunidade como eu tive de fazer um curso… e mudar de vida. Assim como é gerado no porto digital em Recife que hoje é reconhecido internacionalmente por desenvolvimento de software. Um outro grande exemplo é a Índia que hoje é um dos grandes exportadores de sistemas desenvolvido por jovens”, comenta.

 

As inscrições  e programação da III Feira de Cultura Digital no Bom Jardim estarão disponíveis em maio no site www.bjconectado.com.br / Acompanhe o Projeto também pelas redes sociais: www.facebook.com/bjconectado?fref=ts


Mais informações: Marques Filho, idealizador e coordenador do Projeto Bom Jardim Conectado – (fone: 85 9779 6340)

 

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