Sem que possa, por prudência profissional e imperativo ético, tecer considerações a respeito da autoria do bárbaro crime que vitimou a pequena Isabella e da prova até o momento apurada no inquérito policial, tampouco avaliar a linha defensiva adotada pelos advogados que assistem pai e madrasta, é certo que o episódio, chocante e magnificado pela grande mídia, permite, analisado com frieza, a extração de algumas valiosas lições.
De logo é de se ressaltar e enaltecer os esforços policiais despendidos na reconstrução da verdade real, em que, no caso, avulta em importância a prova científica, técnica, a melhor e mais segura que se pode produzir em direito.
É a tecnologia a serviço dos elevados interesses da segurança pública e da justiça. Quer-me parecer que o aparato de segurança pública de nosso estado, em que as técnicas de polícia cientifica ainda dão os primeiros passos, ainda está a anos-luz do grau de sofisticação a que chegou a polícia paulista.
De outro lado, preocupa a espetacularização promovida maciçamente pela imprensa em torno no caso, gerando um clima de emocionalismo e comoção social que podem contagiar as investigações e subtrair a isenção de ânimo de seus condutores. Não se faz justiça sob o clamor das ruas, por cruel que tenha sido, como foi, o crime.
Urge uma resposta do estado à sociedade, tomada de repugnância pelo estúpido crime. Resposta que há de ser dada com rigor, mas ao mesmo tempo com a serenidade e o equilíbrio que de hão marcar as intervenções estatais
Se não forem os indiciados os verdadeiros culpados, os prejuízos para eles e suas famílias são irreparáveis. Se culpados, torço por um julgamento exemplar, com penas do tamanho da monstruosidade que praticaram.
E reflito sobre a condição do homem e sua pequenez. Capaz de gestos nobres e altruístas e, ao mesmo tempo, tão desprezível, tão vil.
Em seu conto “A igreja do diabo”, o grande Machado de Assis me consola: “É a eterna contradição humana”, diz o mestre imortal.
Artigo publicado no jornal O Povo e cedido pelo autor.
Hélio Leitão
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção-Ce
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