
O arcebispo de Olinda e Recife (PE), dom Antônio Fernando Saburido, vai dirigir domingo (3), a partir das 9h, na Igreja da Sé, em Olinda, celebração para marcar a abertura do processo de canonização de Dom Helder Câmara (1909-1999), que esteve à frente daquela Arquidiocese e foi um dos responsáveis pela criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Por sua bondade, senso de justiça, humildade e defesa da não violência ativa, foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Não ganhou, mas o pacifista Dom Helder, natural de Fortaleza, foi considerado, por muitos, muito mais: “um santo em vida”, como afirmou à ABN o pesquisador e colecionador de discos, filmes e fotos Christiano Câmara, sobrinho do religioso.
Christiano recorda do então “Padre Hélder” – como a família se habituou a chamar o Dom

Caridoso e desapegado de bens materiais, o Dom, segundo Christiano, muitas vezes deixava as freirinhas do convento, onde ele morava em Recife, preocupadas. “Na hora do almoço, elas ficavam vigiando a porta porque se aparecesse algum pobre pedindo esmola, ele dava o prato que estava comendo”.
O espírito solidário e justo sempre moveu o religioso. No tempo em que viveu no Rio de Janeiro, sendo bispo auxiliar, esteve à frente de inúmeras iniciativas em favor dos pobres. Atos simples como distribuição de sopa e outros maiores como a criação do Banco da Providência, para ajudar os desvalidos e a Cruzada São Sebastião para dar casa a moradores de favelas.
Quando foi Arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985), Dom Helder quebrou protocolos. “Pobre tinha hora para ser atendido, mas ele dizia que a fome não tem hora”, relembra o sobrinho. Tanta abertura pôs a vida dele em risco, certa vez. “Atendeu um homem que tinha ido lá para matá-lo, mas diante dele caiu ajoelhado. A bondade de Dom Helder o desarmou”, relata Christiano.
Nos tempos difíceis da Ditadura Militar, quando o Dom se tornou um nome de referência mundial na defesa dos direitos humanos e contra o arbítrio, Christiano lembra o quanto o religioso sofreu com as perseguições. Se vinham dos militares vinham também da ala conservadora da Igreja Católica, que não via com bons olhos a atuação progressista do Dom. “Mas mesmo na Ditadura, uns generais tinham admiração pelo ‘Padre Helder’”, garante Christiano.
E como o sobrinho pesquisador se sente ao saber que o tio religioso é um possível Santo da Igreja Católica? “Me sinto todo aperreado. Agora não vou poder fazer mais nada, nenhuma sem-vergonhice, nem olhar passar um ‘avião’”, responde Christiano, brincando, ele que é casado há 58 anos com a Dona Douvina.
DO PADRE PARA O DOM
Em Fortaleza, o Padre Geovane Saraiva, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e

Clique e leia o artigo enviado pelo Padre Geovane: Processo de beatificação de Dom Helder Câmara.
Na foto: Pe. Geovane Saraiva com Dom Helder, na Catedral de Brasília, em julho de 1980, aguardando o Papa João Paulo II.
ENTENDA O PROCESSO DE CANONIZAÇÃO
Foi no último dia 6 de abril que a Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu do Vaticano a carta declarando que “nada obsta, da parte da Santa Sé, a que a Causa de Beatificação e Canonização do Servo Deus dom Helder Pessoa Câmara possa ser realizada”. Dois dias depois, a Arquidiocese lançou o edital convocando todos os fieis e interessados em fornecer quaisquer documentos pertencentes ou referentes a Dom Helder que sejam úteis ao processo.
Neste domingo, começa, então, a etapa diocesana do processo. Dom Saburido irá apresentar a comissão responsável por estudar os textos publicados em vida e analisar os testemunhos de pessoas que conheceram o Dom. O processo passará por outras comissões, como a teológica e a jurídica até o papa conceder ao religioso o título de venerável servo de Deus. Depois disso, o próximo passo é a beatificação e, posteriormente, caso se comprove um milagre dele, é que se dá a canonização.
Fonte: Agência da Boa Notícia, com informações da Arquidiocese de Olinda e Recife