O Menino Deus que tanta ternura desperta em nós no Natal, é o mesmo que disse : “Eu estava preso e vocês me visitaram”.


Para nós que fazemos a Pastoral Carcerária, cada ida aos presídios é um profundo mergulho no mistério do Filho do Homem que se faz encarcerado na carne de cada pessoa encarcerada. Olhos nos olhos, cada encontro é uma oportunidade impar de conversão permanente à mística da verdadeira misericórdia que nos obriga a combater, sem ambiguidades, todo tipo de violência, de preconceito, de falso moralismo e de atitudes paternalista. Pois, foi Ele quem disse que tudo que fizermos “a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”.


Neste Natal também, em que pese o crime de quem está atrás das grades dos nossos cárceres desumanos e desumanizadores, repete-se a profecia de Jesus de Nazaré pelos gritos entalados na garganta dos encarcerados e encarceradas e de seus familiares:


É justa nossa maneira de cuidar de quem está preso?


Qual a visão de pessoa humana e de sociedade está por trás das nossas práticas penitenciárias?


Que ideal de Justiça representam?


Que Justiça é esta que pune indiscriminadamente e quase sempre, somente aqueles que poucas ou nenhuma oportunidade receberam da vida?


Será que uma consciência humana e cristã mais coerente não é capaz de oferecer outras respostas para o problema da criminalidade?


Estamos combatendo a criminalidade dentro de um quadro cultural adequado?


Qual a missão das Igrejas perante a injustiça institucionalizada no Sistema Judiciário e Penitenciário?


Há poucos dias, o papa Francisco, na mensagem de Natal em resposta às numerosas cartas postadas pelos presos do cárcere de Latina, na Itália, assim falava: “As horas, os dias, os meses e os anos passados, ou que vocês estão transcorrendo nesta Casa de Latina sejam vistos e vividos não como tempo perdido ou como uma punição temporária, mas como mais uma oportunidade para o crescimento real para encontrar a paz do coração e a força para nascer de novo e voltar a viver a esperança no Senhor, que nunca desilude”.


Nós, agentes de pastoral carcerária, conhecemos a abertura de inúmeros corações que nem as grades de ferro e nem as muralhas conseguem prender. Tudo isso nos confere autoridade para não cansar de repetir em alto e bom som, doa em quem doer: “O sistema penitenciário brasileiro e a sociedade também, estão colaborando para tanto?


Estas e muitas outras são as profecias que a evangelização nos cárceres não pode calar.

* Padre Marco Passerini é Sacerdote da congregação dos Missionários Combonianos e Coordenador da Pastoral Carcerária do Regional Nordeste I.

Artigo publicado no blog em http://marcopasserini.blogspot.com.br e reproduzido neste site com autorização do autor

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