No sul do Canadá, onde resido no momento, a primavera está de volta. Com ela, em delicado movimento natural, bichos e árvores despertam da hibernação do inverno. Esquilos, pássaros e folhas verdes nas árvores animam o ambiente mais e mais. O homem sábio diz admirar-se das árvores. Lembra dos brotos e do desabrochar de flores e folhas, ressurgindo de seu recolhimento sazonal. Alguém poderia dizer que a Natureza nos transmite uma mensagem: os seres humanos são também como árvores e esquilos, sujeitos a ritmos, recolhimentos, desabrochares. Mas outra atitude filosófica – talvez mais sábia – diria que não se trata da Natureza nos trazer uma mensagem, apenas. Mas de que estamos irmanados pelos mesmos movimentos, sujeitos a ímpetos semelhantes, partilhando processos correspondentes…somos parentes da mesma família, em muitos sentidos e profundidades.
O renascer das folhas, sua “pele” renovada, seu viço e cores fortes, acompanham, nas terras do norte, as grandes e médias cadências, embaladas por ventos, altitudes, temperaturas e exigências vitais. Tal qual a caatinga cearense que se transforma – quase em milagre – diante das primeiras águas de nosso “inverno”, como que ressurgindo do “nada”. Assim, também os seres humanos desabrocham…de suas diárias hibernações (que dizer de nossos sonos regulares?), renovam seu ânimo, florescem de algum modo.
O homem sábio ensina que atitude nobre é contemplar a Natureza. A natureza “de fora”? A humana? A que nos apontam os sentidos transcendentais? Todas elas juntas? Por que não? O conselho mais profundo é contemplar. O que solicita parar, e voltar-se para o que, em dinamismo próprio, nossos sentidos nos trazem. Isto equivale a dizer: o que vem de qualquer latitude. Contemplar irá nos conduzir, em maior ou menor percurso, ao espelho de nossa existência.
A depender do “tamanho da alma”, como diria Fernando Pessoa, brotará a vontade de agradecer. Eis aqui um dos nobres atributos humanos. Ser grato por primaveras e folhas verdes. Ser grato por novos desabrochares. Este sentimento delicado é tema de um bonito vídeo que recomendo (http://www.youtube.com/watch_popup?v=prO85LDlvEA&feature=youtu.be) para os que desejam achegar-se ao território da gratidão.
* João Tadeu de Andrade é do corpo docente da Universidade Estadual do Ceará e está no Canadá como professor visitante da Universidade de Toronto. – tadeuece@yahoo.com.br
