Muitos leitores me telefonam ou escrevem, perguntando: “E qual a solução para a saúde do brasileiro?”. Nós que criticamos o sistema com frequência e que trabalhamos nesta área, há muitos anos, temos a obrigação de responder. Amigo sofredor, solução completa jamais vamos poder atingir, pois o processo é mutante e cada vez mais diversificado. Mas, para uma melhoria acentuada, já temos o conhecimento e a experiência para responder.
Permitam-me esquematizar: 1. Adequado e suficiente suporte financeiro, técnico e administrativo que já sabemos “quanto”, “que” e “quem” necessitamos e devemos desenvolver. Como criador, planejador e dirigente de universidades e hospitais no Brasil e em outros países, posso afirmar que muitos colegas brasileiros profissionais da área são capazes. Se os políticos permitirem que o valor técnico e o conhecimento prevaleçam.
2. A possibilidade da distribuição adequada dos pacientes nos diferentes níveis de atenção da rede pública: ambulatórios, centros de saúde, hospitais gerais, hospitais especializados e universitários. Vários hospitais da nossa rede pública são já considerados “de excelência”. Quando fui superintendente do Instituto Nacional Assistência Médica Previdência Social (Inamps), pude comprovar e demonstrar a validade e oportunidade dessa distribuição. É só querer e poder.
3. O destaque e a necessidade de valorizar a promoção da saúde, de acordo com os seus condicionantes fundamentais estabelecidos pela OMS: prevenção das enfermidades, estilos de vida saudáveis, proteção contra os fatores de riscos, educação e comunicação para a saúde. Apenas como um exemplo das suas grandes e variadas vantagens, cito a OMS quando diz que: 60 a 70% das doenças não aparecem quando se pratica estilos de vida saudáveis.
4, Indicamos a utilização do paradigma: qualidade de vida relacionada com a saúde. Como destaque desta valorização, de nível internacional, cito a criação deste movimento no Brasil pela excelente professora Denise Diniz, da Universidade Federal de São Paulo, ao qual tive e tenho a honra de participar. Temos de implementar diferentes programas de qualidade de vida na área. Saúde tem que ser com boa qualidade de vida. Saúde só, é pouco.
5. Por último, mas que poderia ser o primeiro a ser destacado, indicamos a longevidade ativa, criativa e saudável, através de programas já conhecidos e de valores já comprovados. Por que viver pouco quando já sabemos o que é necessário fazer para viver muito e saudavelmente? Como veem caríssimos leitores e amigos, não vai ser fácil, mas é possível, se tivermos a decisão política para tal. E não venham falar de falta de dinheiro. Isto é uma mentira. O que necessitamos é o uso correto do dinheiro público. Não é senhores e senhoras “representantes” do povo?
* Artigo publicado originalmente no jornal O Povo do dia 30 de novembro e reproduzido neste site com autorização do autor.
Antero Coelho Neto é professor, médico e presidente da Academia Cearense de Medicina – coelho@secrel.com.br