Pedro Valadares, coordenador do Clube do Português, destaca alguns princípios da comunicação não violenta. O objetivo principal com a linguagem é nos conectar e não nos apartar. Ele lembra que se utilizamos as palavras para nos comunicar, a escolha de quais termos utilizar impacta a comunicação com o outro indivíduo.
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Falar e escrever são atos que, a medida que dominamos, realizamos quase de forma automatizada. Com o tempo, paramos de refletir sobre o significado das palavras e aderimos a um modo de enunciar socialmente aceito entre as pessoas com quem convivemos.
Como bem destaca o gramático Evanildo Bechara, “embora o ato linguístico, por sua natureza, seja individual, está vinculado indissoluvelmente a outro indivíduo pela natureza finalística da linguagem, que é sempre um falar com os outros, consoante a dimensão alteridade”. Em outras palavras, se utilizamos as palavras para nos comunicar, a escolha de quais termos utilizar impacta a comunicação com esse outro indivíduo.
O problema é que, com o tempo, essa análise do outro e de como as palavras que eu utilizo o afetam vai sendo deixada de lado em detrimento de um comportamento mais egocêntrico e colérico. Nós vamos perdendo a empatia com nosso interlocutor. Quando isso ocorre, corremos o risco de utilizar termos que vão, consciente ou inconscientemente, ferir a outra pessoa. Não falo aqui de exercitar autocensura, mas sim de realizar o ato básico e solidário de se colocar no lugar do outro.
Aqui vale destacar o trabalho do psicólogo americano Marshall Rosemberg sobre os princípios da comunicação não violenta:
• Observar de maneira descritiva e não julgadora – procure descrever atos sem apelar para extremismos ou juízos definitivos de valor;
• Distinguir sentimentos de opiniões – em vez de rebater um argumento agressivo com outro, busque explicar para a outra pessoa como aquelas palavras tem fazem sentir;
• Distinguir necessidades, desejos e sentimentos de opiniões e julgamentos – comunique-se tendo como base algo que te afeta e explicando como isso ocorre. Tentar justificar atitudes com opiniões e julgamentos destrói a empatia e gera isolamento;
• Fazer pedidos claros e específicos – seja claro no que você deseja da outra pessoa. Dessa forma, é possível sair do campo das expectativas e passar para a campo da realidade. Não utilize ameaças ou chantagens emocionais para conseguir o que quer, pois desgasta a relação com a outra pessoa.
Esses quatro princípios ajudam a nos balizar, quando fazemos a seleção vocabular para tratar sobre determinado assunto com determinado indivíduo ou grupo de pessoas. Tendo em mente que nosso objetivo principal com a linguagem é nos conectar e não nos apartar, é possível evitar vocábulos que tenham uma carga semântica que vá ferir outra pessoa ou que passe uma impressão errada sobre o que queremos realmente dizer.
Como bem destaca Luiz Antônio Marcuschi, “a língua é um sistema ligado a práticas sócio-históricas e não funciona no vácuo”. E explica ainda que é “com ela [que] guiamos sentidos e construímos mundos, mas não por força de uma virtude imanente à própria língua como tal e sim pelo esforço dos falantes”.
Toda palavra possui um peso sócio-histórico, que deve ser levado em consideração na hora de dialogar com as pessoas. A língua portuguesa é um instrumento que pode gerar autonomia ou dominação. Cabe a nós escolher qual caminho queremos seguir.
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