ONG CHAMA (Imagem: Divulgação)
Instituição acompanha, inclusive, mulheres que pretendem destinar os filhos para adoção

 

A cada 20 segundos, nasce uma criança no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a realidade muitas vezes é completamente diferente, afinal, muitas mulheres brasileiras têm suas gestações em situações desfavoráveis. Existem mães que estão em situação de rua, são usuárias de drogas, vivem situações financeiras frágeis ou estão presas. Assim, a maternidade nessas circunstâncias passa longe de ser um cenário ideal. Por isso, mãe e filho precisam de ajuda para conseguirem superar as condições em que vivem. 

Existem instituições especializadas em acolher gestantes em situação de vulnerabilidade em diversas cidades, é o caso do Centro Humanitário de Amparo à Maternidade (CHAMA), localizado no município do Eusébio, que iniciou suas ações, em 2011, com o objetivo de atender mulheres gestantes e com seus bebês; mamães com problemas de dependência química, e/ou que se encontram em situação de abandono ou sem condições financeiras. 

O CHAMA oferece atenção humanizada, alimentação e apoio à realização do pré-natal, assistência ao parto e puerpério. Além disso, as gestantes recebem todo o aparato de vestuário, produtos de higiene, enxoval do bebê, alimentação nutricional, consultas, exames, medicamentos, acompanhamentos psicossociais e assistência jurídica. São ofertadas ainda terapias holísticas, rodas de partilha de empoderamento e autonomia feminina, oficinas e cursos profissionalizantes e encaminhamento para o mundo do trabalho.

“O sentimento de ser mãe é como um copo d’água que você enche e não dá para controlar, é a melhor sensação do mundo”, conta Raquel Pontes, que decidiu não abortar.

Imagem: Arquivo pessoal

A história a seguir mostra que, com a ajuda de voluntários do Centro de Amparo à Maternidade, a mãe Raquel Pontes de Sousa conseguiu ter forças para enfrentar as dificuldades impostas pela vida e ser inserida no mercado de trabalho através dos programas oferecidos pela instituição. 

Aos 19 anos, Raquel sofreu abuso sexual. Ela era uma adolescente que encontrava nas baladas o motivo de se alegrar em meio às decepções da vida. Em uma dessas festas, em uma casa de praia, ela foi abusada sexualmente.

Raquel conta que tinha costume de passar dois a três meses sem menstruar e, por isso, não desconfiava de nada. Mas, depois de alguns dias, começou a sentir alguns tipos de enjoo e aí procurou fazer uma transvaginal, descobrindo que estava grávida de três meses.

Por estar muito assustada com o resultado da gravidez, ela imendiatamente pensou em tomar um remédio para induzir o aborto. Como não conseguiu recursos de imediato para compra do medicamento, mais um mês se passou, não alcançando o objetivo desejado.  

“Eu fiquei mais desesperada ainda pois minha barriga já estava crescendo mais um pouco, eu não tinha emprego fixo, minha mãe não tinha condições, eu não queria falar pra ela o que havia acontecido”, relata. 

Ela começou a procurar clínicas clandestinas que faziam aborto e eram muito caras também. Em um dado momento, buscou em um site informações sobre aborto, e foi aí que se deparou com a seguinte mensagem: “Se você está grávida, não quer o bebê e precisa de ajuda, entre em contato conosco”. Então, Raquel entrou no site, mandou mensagem e no outro dia entraram em contato com ela, ficando meio que subentendido que iam a ajudar de alguma forma, mesmo não falando em adoção. 

“Marquei um encontro com a Magnólia Almeida, da Associação Casa Luz, e aí ela me ajudou, explicou e me acalmou. A Magnólia me disse que tinha uma casa para mulheres grávidas em risco, que poderiam me ajudar e me falou que eu tinha uma alternativa para o aborto, que era passar a gravidez nesta casa e, depois do nascimento, daria o bebê para a adoção e voltaria para casa como se nada tivesse acontecido. Para mim, foi perfeito. A Magnólia marcou um encontro comigo para me levar ao Chama, para conhecer a casa Chama, conta Raquel. 

Em sua primeira visita, Raquel foi recebida de braços abertos, acolhida e, pela primeira vez, se sentiu segura para dizer que estava grávida.

“Eu apertava a minha barriga para que ninguém percebesse, usando umas duas ou três cintas. Cheguei ao CHAMA com seis para sete meses e fui recebida com todo amor e carinho”, conta.

Junto com o CHAMA, os voluntários conseguiram abrir portas que Raquel não conseguiria abrir sozinha. Durante a gravidez, estava ciente que ia dar a criança após ter o bebê.

“Lembro que eu não pegava na minha barriga, não fazia carinho e não queria nenhum registro meu grávida”, relata.

Quando se aproximava das quarenta e duas semanas, Raquel foi fazer o último exame da gravidez e o médico concluiu que ela teria a bebê por via cirúrgica. A cesárea foi marcada e aí, ela lembra que quando deitou na maca da cirurgia o médico pediu um nome, mesmo que fictício, para a bebê. Raquel lembrou que “Amanda” é sinônimo de ser amada e ser cuidada e, no automático, colocou o nome Amanda para a bebê.

Ao conhecer a filha, Raquel sentiu o amor dominar seu coração. “Eu nunca amei ninguém, mas a Amanda, foi o meu ponto da vida que você chega e fala, eu sou feliz e tenho a felicidade em meus braços”, diz.  

Alguns dias se passaram e, por volta da manhã, a Larissa Barros ou mais conhecida como a tia Larissa, chegou de carro com enfermeiras e a filha de Raquel, a Amanda. Ela lembra que estava em pé e se sentou, emocionada. As enfermeiras colocaram sua bebê em seus braços e ela a abraçava, cheirava e beijava.

“Pude dar de mamar pela primeira vez pois antes não se podia devido a questão da adoção. A sensação de dar de mamar é a melhor que existe no mundo”, lembra. 

Durante a gravidez e também após o parto, Raquel fazia oficina de crochê, costura, pintura, manicure e artesanato. Sempre que a tia Larissa organizava as feirinhas no Chama, ela participava. “Cada dinheiro que recebia, eu juntava e guardava, tanto é que saí do Chama com uma boa poupança”, comenta Raquel. 

“Onde estou hoje é porque foi o Chama que me ajudou. Eu tenho a minha filha ao meu lado, me acordando com beijo e abraço, porque o Chama me mostrou que o caminho de estar com minha filha quem fazia era eu e não seria outras pessoas”, diz ela. 

Hoje, Raquel trabalha em um salão de beleza de referência e de grande porte em Fortaleza. 

A coordenadora da Instituição, Larissa Barros, afirma: “o maior objetivo da ONG é tratar essas mulheres com humanização, mostrando que são capazes e cidadãs de direitos.” Todo o serviço é gratuito e a permanência é de acordo com a necessidade apresentada por cada mulher, seja ela em situação de rua, precariedade financeira, dependência química, transtorno psiquiátrico, conflito familiar/comunitário, ameaça de vida; vítima de violência (psicológica, patrimonial, física, sexual); manutenção da gestação em sigilo e entrega à adoção legalizada.

Mais informações:

ONG Centro Comunitário de Amparo à Maternidade (CHAMA)

(85) 9 8683.1169 – Larissa Barros, coordenadora do projeto.

A entidade busca doações frequentes. Para ajudar, você pode se candidatar ao voluntariado, oferecer contribuição em dinheiro, serviços ou donativos. Entre em contato e saiba mais. 

 

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