Este texto não é uma apologia ao hábito de tomar café, mas usará tal mote para lançar um olhar reflexivo sobre o simbolismo que alguns gestos simples assumem na construção de hábitos e afetividades.
Recentemente, participei de um fórum de segurança pública promovido na região do Grande Bom Jardim, onde estavam presentes autoridades civis e militares, além de vários representantes de conselhos comunitários e outras instâncias da sociedade civil. Na ocasião, após a fala das autoridades, abriu-se espaço para as participações dos moradores. Nesse instante, diante do cenário de violência que assola nossa sociedade, concluí que ouviria uma sequência interminável de críticas e apelos para o incremento do policiamento ostensivo, com toda ênfase na repressão.
No entanto, para minha surpresa, sucessivos líderes comunitários se revezaram somente para agradecer ao comandante do policiamento do Bom Jardim, reconhecendo seu esforço e sua abnegação diante dos desafios da segurança pública. Dentre os muitos elogios proferidos, percebi algo recorrente: diversos moradores agradeceram as visitas domiciliares que foram feitas pelo referido militar e citaram a honra que tiveram em servir-lhe um cafezinho, ocasião em que conseguiram conversar informalmente sobre diversos problemas de suas comunidades. Na oportunidade, também enfatizaram que a humildade e a escuta ativa do citado policial fizeram grande diferença em momentos de aflição, inspirando confiança e gerando conforto, mesmo em contextos em que a intervenção policial já não podia operar grandes transformações.
De tão atípica, a sequência de elogios consagrou a reunião em um raro momento de agenda positiva no âmbito da segurança pública, não por força dos resultados operacionais apresentados, mas pelo singelo poder do cafezinho, que emergiu em cada discurso como um catalizador de encontros e reencontros, atestando a importância das gentilezas no acolhimento emocional e na formatação do bem-estar subjetivo das pessoas.
Assim, constatei que os gestos empáticos e a atenção verdadeira sempre farão diferença em situações difíceis, ajudando a quebrar friezas e a dar sabor a processos relacionais, principalmente quando protagonizados por um agente público que detém, perante a sociedade, o emblemático simbolismo de cuidador.
* Bernardo Antonio Aguiar Caetano – Major PM