Estes tempos natalinos vêm sempre cheios de muitas lembranças. Tanto maiores quanto mais natais a pessoa viveu. Não sem razão Machado de Assis pergunta, ao final do seu soneto – “mudaria o Natal ou mudei eu”. Agora mesmo estou a recordar de duas figuras ímpares, sempre presentes na vida da cidade, especialmente nesta quadra de luzes. Lembro de João Ramos e de Núbia Brasileiro. O primeiro entregue à tarefa, até hoje insubstituível, de transformar a torre antiga da TV Ceará, Canal 2, numa portentosa árvore natalina, de muitas cores e de muita luz, transformando-a num vistoso pinheiro, símbolo de uma Fortaleza, ainda sem gangues, sem assaltos em cada esquina. E outras torres de TVs, animadas pelo exemplo da pioneira, também se vestiam de cores, emprestando à cidade um colorido todo especial, onde não faltava o concurso de qual a mais bem decorada torre natalina. Hoje, os tempos são outros, e já não há aquele empenho em tornar as altas estruturas de ferro em belos pinheiros natalinos. João se foi, e com ele a beleza e a poesia de suas árvores de Natal.

Outra figura-símbolo de Fortaleza, a enfeitar-lhe com sua graça, beleza, arte, encanto, poesia, disposição para a luta – era Núbia Brasileiro, também esposa e mãe, cedo levada do convívio dos seus. Marcante presença na vida lítero-musical, como professora de canto, poetisa, escritora, a irradiar aquela luz de brilho próprio apanágio das almas benfazejas.

João Ramos e Núbia Brasileiro, ao lado de tantos mais (e cada um traz a sua lista afetiva de saudades) são lembranças revigoradas nestes tempos mesclados de alegria e de tristeza – pois o Natal costuma trazer consigo muitas lágrimas em contraponto ao sorriso das crianças ainda livres das marcas do tempo. Agora, quando bem extensa é a lista das ausências – podemos entender melhor a indagação do Bruxo do Cosme Velho, se “mudaria o Natal ou mudei eu”.

Nas pessoas de João Ramos e de Núbia Brasileiro rendo a merecida homenagem a quantos agora viajavam, além do tempo, na cauda do cometa de Belém, transformados em luz.

* Artigo publicado no Jornal Diário do Nordeste em 18.12.08 e reproduzido neste site com autorização do autor.

Eduardo Fontes
– Jornalista
eduardohfontes@yahoo.com.br

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here