Amante, amado e amor são apenas formas ilusórias de apresentação do AMOR, que se mostram àqueles ligados ao mundo físico ilusório. Estamos iludidos, quando confundimos amor com prazer. Prazer é uma ilusão dos sentidos. Ele tem uma raiz profunda em nosso instinto de sobrevivência, como personalidade, em que sentimos dor como reação sensitiva àquilo que nos ameaça a sobrevivência, e prazer àquilo que facilita a sobrevivência. E é esse prazer, que nos faz querer ficar junto do instrumento de prazer e usar a nossa mente racional lógica para descobrir meios de obter o intento de nossa personalidade. Instinto, sensação e razão.

E é embasado nesse tripé, que o homem normal institui o conceito de amor. Amo aquilo que satisfaz meus instintos, aquilo que satisfaz minhas sensações e aquilo que está de acordo com minha razão.

E o que é um homem normal. O normal é um conceito puramente estatístico. O normal é aquilo que está predominando no local e no momento da pesquisa. O normal, nesse nosso mundo ilusório, está ligado, logicamente, ao tempo e ao espaço. O que é normal na África do século II não é o mesmo do Brasil do século XXI. Então seria melhor chamar esse “normal” de “normótico”. É normótico, em nosso atual tempo e espaço, subornar, invadir o espaço dos outros, vender, comprar, conspirar, manipular, mentir, etc.. É normótico, não normal. O homem normal ama aquilo que satisfaz seus instintos, aquilo que satisfaz suas sensações e aquilo que está de acordo com a sua razão.

Mas do mesmo modo como o espaço e o tempo, tudo o que for ligado a eles é relativo, e muda constantemente. A única coisa que não muda é o que está implícito, escondido além do mundo quântico. Nenhum clarão, túnel, alegria, tristeza, prazer ou dor irão nos levar a nada verdadeiro. Toda essa corrente de sensações e pensamentos, que ocorrem também no tempo e espaço, são relativos e mudam constantemente. Se os seguirmos seremos escravos deles e de suas mudanças. Ontem eu amei fulano, depois amei sicrano, mas hoje amo fulano novamente. Quem amarei amanhã? Ontem estava unido a fulano, e era verdadeiro. Mas descobri que era falso e me uni então a sicrano. Hoje sei que verdadeiro era mesmo o fulano, sicrano era uma ilusão. Todas os nossos instintos, as nossas sensações e as nossas elucubrações lógicas, presas como estão no nosso plano físico de tempo e espaço, são relativos, mudam e, portanto, são ilusões normóticas de uma pessoa normótica num mundo normótico.

E o que é se arriscar, o que é viver? Depende de que dimensão se esteja falando. Risco está intimamente ligado ao conceito filosófico de livre-arbítrio. Arriscar-se é exercer o direito filosófico de livre-arbitrar. O nosso livre-arbítrio pode nos levar a ficar preso a esse mundo normótico ou nos livrar dele. Presos ao mundo normótico poderemos experimentar sensações e pensamentos lógicos associados (bons ou ruins). Livres desse mundo, não há mais alegria ou tristeza, amor ou desamor, bom ou ruim, toda a dualidade desaparece e fica somente a Unidade. Essa Unidade que não traz sensações, pois sensações são fenômenos ligados ao plano físico, é conhecida como Bem-aventurança. O nosso arriscar-se deve se dirigir nesse caminho de viver.

Mas como precisamos de coisas palpáveis para exercer comparações, esse estado de Bem-aventurança pode ser muito imperfeitamente comparado à sensação física de Paz, interna e externa. A sensação física de Paz é a que mais se aproxima, nesse nosso mundo normótico, do estado final de Bem-aventurança de união com o divino. Se sentirmos paz em nossos instintos, sensações, sentimentos, pensamentos e ações, então valeu a pena “nos arriscarmos a viver”. Se não sentimos ainda essa paz em todos esses planos, devemos mudar a nossa vida, tornar a nos arriscar e mudar.
 

Cláudio Azevedo
– Médico, psicoterapeuta, teósofo, tanatólogo e escritor.
croberto@orion.med.br

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