Essa foi a pergunta que me fizeram em recente entrevista que buscava explicações para o alarmante incremento da taxa de homicídios no Estado: quase 100% a mais do que 1997.


Qualquer resposta a essa pergunta exige conhecimento dos dados. A ausência deles é nevrálgica para qualquer política de segurança. De que tipo de homicídio estamos falando? Quais as causas dos mesmos? Quantos deles foram praticados por policiais? Quantos foram por pistolagem, crime passional, latrocínio, briga de gangues, grupos de extermínio? Ou seja, só há como definir uma política repressiva ou preventiva se se compreende detalhadamente as motivações, os locais, os envolvidos, os horários, enfim, todas as circunstâncias dos crimes. Sem isso, os diagnósticos e consequentemente as ações de combate se fragilizam. Proliferam os consensos ocos. E o atual consenso é que todo problema do crescimento da violência é decorrência das drogas.


Deixem-me usar um caso hipotético para ilustrar como as coisas podem ser bem mais complexas. Um jovem envolvido com drogas faz um assalto em uma loja. Justiceiros contratados pelo lojista realizam “investigação particular” e acabam por matar o jovem. Qual a causa da morte? Drogas? Combater as drogas nesse caso reduzirá a taxa de homicídio? Evidente que não. Afinal, os justiceiros não vão parar de “zelar” pela segurança de seus clientes. E a próxima vitima pode ser você, caro leitor, por ter ousado competir em um negócio ou enfrentar um cartel.


Coletar os dados, inclusive o histórico dos últimos anos, organizá-los em torno de padrões comuns e definir ações repressivas e preventivas para cada tipo de problema é condição sine qua non para o sucesso da recém-criada Delegacia de Homicídios. Só espero que ao sistematizar os dados não os escondam.


* Artigo publicado em 21.09.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.

 

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