Uma mulher resolveu doar manjericão para quem passa em frente a sua casa. Uma jornalista decidiu espalhar cartas pela cidade. Quatro jovens amigos escolheram adotar a própria cidade e repensar a forma de lidar com ela. Cada um, em seu tempo e a seu modo, encontrou na delicadeza de um pequeno gesto uma maneira de transformar o próprio cotidiano e o de outras pessoas.
No final do ano passado, a jornalista Isabela Bosi resolveu “libertar” textos seus que estavam escondidos na gaveta e, ao mesmo tempo, expor sua relação com Fortaleza. O projeto pessoal tomou forma e resultou no “Pra você”, uma iniciativa que espalha cartas por diferentes cantos da cidade, na tentativa de dar vazão à imensidão de alegrias e incômodos que ela mesma alimenta e, assim, disseminar entre os fortalezenses a poesia que a sufoca e empoeira suas gavetas.
Quase quatro meses depois do lançamento, o projeto ainda continua, mesmo com uma breve pausa, devido às correrias do dia a dia. Recentemente, Isabela retomou o “Pra Você” e deixou algumas cartas na Praça Portugal. Segundo ela, o projeto começou despretensioso, apenas como forma de dar vazão aos seus sentimentos com relação aos textos, a cidade e seus espaços públicos. “Não tinha expectativas. Era apenas uma coisa minha com a cidade e meu texto, algo para me libertar. Mas teve um retorno legal, com pessoas pegando as cartas que deixei e curtindo a página do Pra Você no Facebook”, explica.
Para Isabela, o projeto se tornou em algo maior do que esperava. A jornalista pondera que Fortaleza é uma cidade onde as pessoas se relacionam pouco com os espaços públicos, por medo ou por carência de espaços de convivência. Ao se deparar com textos espalhados nas ruas, praças e outros equipamentos públicos, a pessoa pode enxergar seu entorno com mais afeto. “Encontrar essas cartas é um relacionamento diferente. As pessoas se surpreendem e encaram Fortaleza de outra forma. A delicadeza está nessa forma mais humana de se relacionar com a cidade”, reflete.
Manjericão para uma vida cheirosa
O exemplo não é cearense, mas pela singeleza do gesto vale como uma dica para ser aplicado também em terras alencarinas. Com disposição e caixinhas de suco servindo como vasinhos provisórios, a produtora cultural Nonô Joris oferece manjericão, que ela mesma planta, para quem passa em frente a sua casa, em Porto Alegre (RS).
Para evitar qualquer dúvida sobre o gesto, a artesã colocou uma placa com a frase “Pode levar mudas alegres de manjericão para deixar sua vida cheirosa”. A atitude de Nonô ganhou repercussão, principalmente, nas redes sociais. “Muita gente olhava a foto [na internet] e perguntava: ‘onde é? Também quero’. Mas eu não divulgo o endereço. O objetivo não era eu transformar a minha casa numa floricultura, mas sim mostrar que, com coisas muito simples, podemos fazer grandes transformações. Todos elogiam e dizem coisas como: ‘O mundo precisa de mais pessoas assim’. Minha resposta é sempre: ora, seja uma delas”, comentou Nonô em entrevista ao site Catraca Livre.
Repensando a cidade
Quatro jovens amigos e a vontade de repensar o relacionamento das pessoas com a cidade fizeram nascer o Movimento “Fortaleza Sou Eu”. O convite é sugestivo e cativante: “que tal adotar sua própria cidade, contribuir para sua melhoria e fazer ações em parceria com projetos sociais para movimentar a inclusão da população em prol de um lugar melhor para viver”. Em dezembro de 2013, o Movimento lançou a primeira ação pública, o projeto Cinema no Viaduto, como forma de humanizar a área do viaduto da Av. Santos Dumont com Av. Engenheiro Santana Jr., no bairro Papicu, “transformando-o em lugar de arte”.
De acordo com Diego Ribeiro, um dos jovens integrantes do Movimento, ele e os amigos David Alencar, Myrtes Matos e Renata Tasca, todos formados em Comunicação Social-Publicidade, acreditam que, para uma convivência melhor com a cidade, é preciso que as pessoas desenvolvam o sentimento de fazer parte do local onde vivem, bem como o senso de coletividade. Foi a partir de experiência semelhante realizada no Rio de Janeiro pela Satrapia, start up de empreendedorismo social, da qual as duas meninas fazem parte, que o Movimento foi idealizado.
Massa