Relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que 804 mil pessoas cometem suicídios todos os anos. O equivalente a 2.200 suicídios por hora, 91 por minuto.O Brasil ocupa a oitava posição. No mês de atenção maior ao tema, a Agência da Boa Notícia conversou com o psicólogo e psicanalista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniel Franco, acerca do assunto



Foto: Arquivo pessoal


Por Márcia Rios


Relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que 804 mil pessoas cometem suicídios todos os anos. O equivalente a 2.200 suicídios por hora, 91 por minuto.O Brasil ocupa a oitava posição. No mês em que se dedica uma atenção maior ao tema, a Agência da Boa Notícia conversou com o psicólogo e psicanalista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniel Franco, acerca do assunto.

(Agência da Boa Notícia) Quando um suicídio é considerado intencional ou acidental?

Daniel Franco – Vamos citar como exemplo as brincadeiras perigosas. O jovem que pratica a brincadeira perigosa não quer se matar. Muito pelo contrário, ele quer sentir prazer, explorar as diferentes possibilidades que a vida oferece. Eles querem ser aceito no grupo, buscando a construção da própria identidade. É uma ação acidental. Os jovens, como é característica da mudança de fase, têm necessidade de autoafirmação, de mostrar que não são mais crianças. Já o suicídio intencional, como uma forma de tirar a própria vida, deixa clara a intenção de dar fim a sua existência.

(ABN) Como diferenciar o jovem que quer morrer daquele que quer apenas brincar?

As brincadeiras perigosas, na maioria das vezes, acontecem em grupo. Para os jovens, é curtição. Eles querem experimentar, mas não avaliam as consequências. Eles querem mostrar que não são mais crianças. É necessário que sejam observadas as características prévias. O jovem que pensa em tirar a própria vida, já traz consigo um quadro particular de sofrimento. Podem vir a apresentar um quadro de depressão, que se manifesta pelo comportamento. Humor irritado ou deprimido, abandono de atividades que eram importantes e apreciadas, perda do interesse pelo que era relevante (antes ele fazia e agora não faz mais). Essas alterações são indicadoras de que algo pode está acontecendo, não é uma afirmação categórica, sobretudo a partir de um único sinal.

(ABN) E o que deve ser feito ao perceber que há algo errado?

Procurar ajuda profissional, da família, na religião, nos amigos. As pessoas relutam em procurar orientação. Alguns fatores influenciam, tais como: vergonha, resistência, preconceito, falta de dinheiro e falta de tempo. A pressão social é um fator primordial na formação dos adolescentes. A imaturidade está presente. Eles ainda não dispõem de recursos, de estratégias de enfrentamento das diferentes dificuldades. A pressão social em relação ao rendimento escolar, a escolha da profissão, a sexualidade. A sociedade cobra que todos têm que fazer escolhas. Eu acredito que as escolhas podem ser feitas, desfeitas e refeitas, sempre. A crise da adolescência é um fenômeno esperado, é uma passagem e quando nós sofremos passagens, mudanças, transformações, é natural que tenhamos medo, insegurança desorganização de sentimentos. E cada um responde ao sofrimento de acordo com os recursos internos. Os fatores de proteção tais como: família, religião, atendimento psicológico e psiquiátrico possibilitam condições favoráveis para o enfrentamento das dificuldades.

(ABN) Você acredita que noticiar o suicídio seria uma forma de estímulo para novos casos?

Não vejo dessa forma. Se a gente não fala, não há como prevenir. A informação é uma ferramenta poderosa. Que fatores levam o indivíduo a cometer suicídio? O fato de se acreditar que a notícia seria uma forma de estímulo é um fator social. A notícia que o suicídio é uma saída pode realmente levar o indivíduo a cometer o ato. Mas, é necessário salientar que a notícia do suicídio não fabrica suicida. O que acontece é que a pessoa que já tem a predisposição poderá vir a ser estimulada com a notícia. É o efeito contágio.

(ABN) Qual mensagem você daria para pessoas depressivas, com pensamentos suicidas?

É importante que as pessoas que pensam em tirar a própria vida saibam que aquilo que você quer matar não é necessariamente você. O que elas precisam ouvir é: “Eu entendo o que você está sentindo, mas, o que você quer tirar não é a sua vida. Você quer acabar com a sua dor, o seu sofrimento e para isso existe ajuda”. Há canais que trabalham justamente para mostrar outras saídas para esse sofrimento. Procure ajuda.


 

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