Garrafas, pedaços de madeira, utensílios de cozinha, materiais de plástico e objetos quebrados facilmente vão para o lixo na casa de qualquer pessoa, mas nas mãos dos jovens da Associação Tapera das Artes tudo isso vira instrumento musical. O grupo Catavento, que apresenta as performances com instrumentos musicais artesanais de materiais recicláveis de cordas, sopros e percussão, foi convidado para participar da Bienal do Lixo, que acontece de 26 de maio a 5 de junho, no Parque Vila Lobos, em São Paulo-SP.
O evento contará com a participação de diversos artistas em uma exposição de artes plásticas construída a partir de materiais de descarte e um Fórum de painéis temáticos sobre o reaproveitamento como ferramenta de proteção e preservação ambiental. A participação do grupo Catavento ocorrerá nos dias 26, 27 e 28 de maio com apresentações na arena da Bienal do Lixo, onde ocorrerá também a exposição de arte com os instrumentos da luteria experimental da Tapera das Artes.
O Grupo Catavento surgiu na AssociaçãoTapera das Artes, em Aquiraz, no Ceará, dentro da Oficina de Música e Luteria Experimental ministrado pelo diretor artístico da associação, Fernando Sardo. O Grupo apresenta performances com instrumentos musicais criados a partir de diversos materiais recicláveis, ressignificando a estética, formatos e suas utilidades, possibilitando assim, criar novos timbres, cores e sons. “No repertório estão músicas autorais em diálogo com músicas do mundo, trazendo alegria e sentimentos poéticos para novas formas de ver a vida”, comenta o diretor Fernando.
A Luteria Experimental da Tapera das Artes tem foco em obras construídas de diversos tipos de matérias primas, sendo orgânicas como cabaça, bambu, madeira, pedra; e matérias primas sintéticas como plástico, papel, borracha e metal. A proposta é explorar uma grande variedade de materiais para a criação e construção de instrumentos musicais e esculturas sonoras em busca de novas sonoridades, novas formas estéticas e alternativas sustentáveis para a luteria.
Sobre a Tapera das Artes
A música sempre foi a grande paixão de Ritelza Cabral, idealizadora da Associação Tapera das Artes. Em 1993, iniciou voluntariamente ateliês com 30 crianças e adolescentes oriundos de famílias de baixa renda do distrito de Tapera, no município de Aquiraz, ocupando as mangueiras de seu sítio. O trabalho logo criou corpo e em pouco tempo já existiam 60 crianças abrigadas nas sombras dos manguezais, e os sons dos pífaros repercutiam intensamente, encantando rendeiras, pescadores, agricultores e familiares dos pequeninos músicos.
O sucesso que o programa gerou na comunidade possibilitou em pouco tempo a sua expansão, propiciando nos anos seguintes a inclusão de novas ações educativas, com atividades voltadas para o desenvolvimento de diversas atividades artísticas. As mangueiras já não eram suficientes para abrigar os participantes e em 1996 os pequeninos estavam ocupando espaço apropriado na primeira sede da instituição. A partir daí foi possível a implantação de um programa pedagógico permanente, que gerou vários grupos musicais artísticos, dentre eles a Orquestra Bachiana Jovem de Aquiraz, criada com apoio do maestro João Carlos Martins, sob a regência do maestro Ênio Antunes. Outras conquistas merecem destaque: o Centro Cultural, parceria com a Fundação Vitae, e o Teatro Escola da Tapera das Artes, com recursos não reembolsáveis do BNDES; ambos oferecem ações formativas de relevância para a cultura no Estado do Ceará.
O compartilhamento é parte do DNA da Tapera das Artes, que desde sua fundação vem cumprindo um importante papel no seu território, município de Aquiraz, litoral leste do Ceará, propiciando a formação integral, desenvolvimento do potencial humano, suas competências e habilidades, e o enriquecimento cultural de crianças, adolescentes, jovens e seus familiares, moradores da região, com a oferta de vários projetos e programas que têm como eixo central a música, mas que trabalham a formação do ser para posturas cidadãs ao longo da vida.