Celebrar o Natal de Jesus Cristo em meio a bloqueios, muros e cercas, com toda a acentuação que se dá a lógica consumista e materialista, nos mostra a face de um mundo visivelmente enganoso, deixando clara a instrumentalização do personagem principal da festa, a qual estamos envolvidos. Embora nosso esforço seja enorme, ao pensar o contrário, vemos cristalizado seu paganismo, distanciando-nos sempre mais de seu verdadeiro significado, que é o da fragilidade de uma criança, que exulte feliz nas contradições da humanidade, no clima alegre e esperançoso do Natal do Senhor, favorecendo todas as pessoas, sem distinção, num bom e grande mergulho no projeto indulgente de Deus.
No cumprimento das promessas, dons de Deus para a humanidade, na celebração do Natal, seria maravilhosa uma consciência sempre maior, de que a verdadeira festa do amor só mesmo pela segura convicção de que a glória de Deus quer se manifestar e brilhar entre nós, no Emanuel, o Deus conosco, na certeza de que chegou a salvação, no linguajar de São Paulo, na terna e amorosa bondade de Deus para com a criatura humana, no mistério de seu próprio Filho, salvando-nos por sua livre e benevolente vontade (cf. Tt 3, 4-7).
A vinda de Jesus à terra foi e é indispensável, porque é a salvação, é Deus visível tornando-se gente no Menino Jesus, de Maria e José, como os vemos na manjedoura, figuras centrais, sendo que a verdadeira luz que ilumina todo homem é Cristo. A celebração solene e comovedora do nascimento do Filho de Deus quer ser a afirmação da nossa fé no mistério de Jesus, que desceu do céu e se encarnou na história da humanidade. Convençamo-nos do nascimento do Filho de Deus como esperança de dias melhores na utópica, porém necessária, crença, afinal não podemos perder de vista a expectativa de um mundo melhor, fraterno e justo.
Quando José e Maria encontram as portas fechadas na hospedaria de Belém, cidade periférica, eles têm que se deslocar daquele lugar, indo a outro ainda mais periférico. Lá, Jesus nasceu na estribaria, ajudando-nos mesmo a perceber o paradoxo do mundo de então e de nosso mundo. Jesus não nasceu em belas casas verticalizadas, nas ceias compostas de melhores iguarias, regadas de caras bebidas, que nos parece longe do terno, afável e sóbrio espírito do Natal.
Que a bondade de Deus na criança de Belém nos ajude em nossa caminhada de fé, não distraídos e despercebidos, diante da insensatez do mundo. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – geovanesaraiva@gmail.com