A jornalista e professora universitária Ana Márcia Diógenes lançou, em abril de 2017, seu primeiro livro na Bienal do Livro de Fortaleza, “De Esfulepante a Felicitante, uma Questão de Gentileza”. A narrativa aborda questões como gentileza e juventude.
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Em um mundo onde a falta de amabilidade é vista com frequência e os gestos de delicadeza por muitas vezes são esquecidos, as palavrinhas mágicas (por favor, obrigada, desculpa, com licença) precisam ser relembradas constantemente. Mesmo com o estresse sendo considerado o temeroso mal do século há quem acredite que o caminho a ser seguido é o da gentileza, o da generosidade, trajeto esse que será guiado pela nossa consciência.
A jornalista e professora universitária Ana Márcia Diógenes abraçou o tema “É preciso que esse tipo de sentimento e de atitude façam parte como algo normal do nosso cotidiano. Não deve ser o diferencial e sim o normal “, afirma Ana Márcia. Em abril de 2017, foi lançado o seu primeiro livro na Bienal do Livro de Fortaleza, “De Esfulepante a Felicitante, uma Questão de Gentileza”. O livro aborda questões como gentileza e juventude. Ela conversou com a Agência da Boa Notícia (ABN) acerca dos novos projetos e também sobre o jornalismo como profissão. Confere aí.
(Agência da Boa Notícia) O ano de 2017 foi palco para a realização de dois projetos: o lançamento do seu primeiro livro: “De Esfulepante a Felicitante, uma Questão de Gentileza”, e a chegada do blog “felicitâncias”, todos tendo como temática falar sobre gentileza. O que é gentileza para você?
Ana Márcia Diógenes – Gentileza é pensar o outro. É ver que o outro é um ser de desejos, anseios, possibilidades, problemas… Que o outro não é ninguém menos do que a gente mesmo do ponto de vista de uma terceira pessoa. Gentileza é sair da gente, é ver o espaço do outro, é respeitar o outro por meio do ambiente, da amizade, do trabalho, da calçada, do lixo, da rua. É a delicadeza de se perceber como parte de uma engrenagem, que fica mais plena quando cada um percebe que é da interação que se faz a humanidade em nós.
(ABN) Como se deu o processo de criação do livro?
AMD – Para criar o livro fiquei pensando alguns dias em como poderia tratar o tema da gentileza de uma forma leve, em que os adolescentes se percebessem e se reconhecessem naturalmente na história. Quis evitar, a todo custo ( e espero ter conseguido) dar qualquer lição de moral e da relação bom versus mau. Somos seres cheios de contradições e, na adolescência, estamos em meio ao um grande vulcão que fica mexendo essas contradições para lá e para cá. A realização dessa ideia só foi possível a partir do projeto Eu Sou Cidadão, uma parceira da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDMCE) e a Fundação Demócrito Rocha (FDR). Nesse projeto são lançados livros com abordagens sociais para estimular a leitura, o diálogo e as vivências de crianças, adolescentes e suas famílias nos municípios cearenses
(ABN) E a narrativa?
AMD – Pensei em uma menina que se via diante de um desafio na escola e que deveria escolher um tema. Ela mesma demora a chegar ao tema da gentileza, e enfrenta dificuldades para descobrir como interagir com as pessoas por meio da gentileza. O desafio foi tomando conta da narrativa. A partir da personagem principal foi montando o seu entorno, de família, amigos e escola, deixando o cenário o mais natural possível, para que coubessem mais e mais adolescentes.
(ABN) Explique o que é o “Esfulepante” e o “Felicitante”? O que eles representam na ficção?
AMD – As palavras foram meio que inventadas para entrar no universo de linguagens próprias que permeiam o imaginário e a vida cotidiana de crianças e adolescentes.
Esfulepante é a soma de apavorante, triste e horrível. Significa aquilo que não é bom, não é positivo, não é legal de fazer, de dizer, de viver.
Já Felicitante é a soma de felicidade e excitante. Aquela sensação de alegria, que faz a gente se sentir meio que saltitante nas nuvens, que nos torna leves…
Na ficção, o esfulepante representa tudo o que as pessoas, erroneamente, pensam sobre a segunda-feira, sobre o cansaço que pensam sentir, desde o domingo porque o dia seguinte é a segunda-feira. Representa os pensamentos negativos e a falta de coragem para mudá-los.
Já o felicitante, na ficção, engloba tudo que se refere a avanços, a conquistas, a vencer desafios, a superar, a mudar uma opinião para melhor, ao acolhimento ao outro.
(ABN) O blog “Felicitâncias” é uma ferramenta para espalhar gentilezas nas mídias sociais. Como está sendo essa experiência?
AMD – Tem sido uma descoberta maravilhosa. Tem me forçado, positivamente, a sair buscando possibilidades de gentilezas e de felicitâncias no meu cotidiano. E acaba me levando ao início de toda essa ideia, que começou em 2015, quando todo dia 15 de cada mês eu escrevia um texto sobre gentileza que tivesse visto ou ouvido. Os textos eram publicados no Facebook.
Agora, também por meio das redes sociais, volto a compartilhar sobre a gentileza, em um outro formato. Tenho recebido bons retornos de amigos e desconhecidos e espero também começar a receber sugestões de gentilezas vivenciadas. É preciso que esse tipo de sentimento e de atitude façam parte como algo normal do nosso cotidiano. Não deve ser o diferencial e sim o normal.
(ABN) Quem acompanha suas postagens nas redes sociais percebe uma constante preocupação em propagar gestos simples de ternura, convivência com a família e amor ao próximo. Em um mundo onde intolerância, egoísmo e ódio estão presentes, você acredita que essa tão almejada paz seja possível?
AMD – Acredito que para encararmos a nossa condição humana temos que nos confrontar com os desafios que são inerentes. Vejo a paz como um estado de busca, como um caminho. Viver é esse caminhar. Não podemos sequer imaginar não ser a paz uma busca constante. Estaríamos nos entregando, por medo, por falta de perspectiva.
Quanto mais acreditarmos que esse caminhar fortalece a nossa humanidade, mais estaremos nos fortalecendo e encarando as dificuldades inerentes à vida no planeta Terra.
Não adianta nos escondermos dos problemas e conflitos. A gentileza de um, contribui e favorece para que a gentileza vá evoluindo de mão em mão, e fazendo parte do cotidiano. A paz é o processo.
(ABN) Jornalista com experiência, ao longo de sua carreira você já trabalhou com diversas áreas da comunicação, inclusive na formação de novos comunicólogos. O mercado hoje sofre uma séria crise como falta de oportunidade e salários abaixo da média. Como você vê a situação atual da comunicação do Ceará?
AMD – Vejo o momento como um grande desafio, mas inerente ao processo de evolução da humanidade frente a tecnologia dos meios de comunicação. Até alguns anos, o jornalista e os meios de comunicação eram os únicos detentores da possibilidade de produzir informação. Com a internet, os smartphones, Instagram, Facebook e outros, cada um pode produzir informação. A grande questão é que isso pode não ser notícia. Entendo que a credibilidade vai ser, mais do que nunca, a moeda para que se saiba se uma notícia é ou não verdadeira. Ou seja, o jornalista e os meios devem, como regra básica e que pode diferenciar em temos de “informação feita por qualquer um, ao alcance de todos”, pautar-se pela verdade, pelo equilíbrio, pela diversidade de fontes. O mercado, no mundo, no Brasil e no Ceará, precisa estar se antecipando a essas discussões, que vão muito mais além do que o fim ou não do jornal impresso ou da disputa Netflix versus TV convencional. É preciso reforçar a importância do fazer jornalístico: uma discussão que deve envolver da academia aos profissionais, dos meios aos consumidores.
Serviço:
“De Esfulepante a Felicitante, uma Questão de Gentileza”
Projeto Eu Sou Cidadão, uma parceira da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDMCE) e a Fundação Demócrito Rocha.