As discussões sobre sucessão não podem seguir reduzidas à questão de quem poderemos colocar no poder. Deve, sim, pautar-se em como colocar o cidadão em diálogo com os futuros eleitos. Os 23 anos de democracia representativa com suas eleições amplas e diretas sugerem o entendimento de que o modelo pode estar mais a serviço de legitimar os estelionatos eleitorais a que assistimos a cada dois anos e da eterna exclusão política dos verdadeiros donos do poder.

Por que mulheres, jovens, pobres e negros têm tanta dificuldade em participar do jogo, sem ser só para cumprir tabela? Por que os políticos com mandato não querem, e não fazem, a reforma política? Devemos, então, provocar a reflexão, a discussão e a deliberação acerca das possibilidades de uma outra democracia, a participativa.

As novas mídia digitais e interativas abrem esta perspectiva. E não serão os nossos representantes impostores que vão nos lembrar que o ciberespaço é a novíssima esfera pública, onde se pode construir a ciberdemocracia. Estamos definitivamente na era da autoria, da colaboração, da inteligência coletiva… E estes são apenas alguns dos novos paradigmas da comunicação e do poder.

Os políticos que não acompanharem a nova ordem comunicacional, a da verdadeira comunicação, a do diálogo, logo poderão estar empalhados em museus, ao lado do Estado solitário e da cidadania muda. Os que se lançarem a esta novíssima esfera pública devem saber que estarão sendo julgados pelo eleitor a cada segundo, seja pelos seus atos ou pelas omissões.

Os políticos com mandato, que se cuidem também, no sentido de abrir os governos e os parlamentos. Trocar a opacidade pela transparência, que já foi uma moda, é uma obrigação legal, mas pode ser pouco. Trocar o balcão da repartição por um site para quem não está conectado ou não sabe ler pode ser fake, do inglês, que significa falso, um embuste.

Melhor, talvez, utilizar as rádios públicas e, especialmente, a TV pública digital interativa como instrumentos de comunicação pública, que é própria da ciberdemocracia. Outra inovação seria instalar nos celulares do cidadão linhas livres para enviar torpedos aos seus eleitos ou aplicativos de e-governo fáceis de usar, como já fazem as empresas.

Portanto, pretenso candidato, não basta só transferir renda, tem que transferir poder! Não basta acabar com a miséria, há também de se acabar com o analfabetismo funcional, que sustenta uma fratura digital a separar os que têm e os que não têm acesso a informações sob demanda e, sobretudo, a canais livres da expressão libertadora.

A ciberdemocracia é possível, sim, além de urgente e necessária. Basta começar a eleger governos mais encaixados ao novo panorama mundial, mais focados na inovação com inclusão e no desenvolvimento das pessoas.

* Artigo publicado no jornal O Povo de 30 de maio de 2011 e reproduzido neste site com autorização do autor.

Alberto Perdigão é Mestre em Políticas Públicas e Sociedade, autor do livro Comunicação Pública e TV Digital – aperdigao@ terra.com.br

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