A República Federal de Alemanha está comemorando aniversários importantes relacionados à sua história pós-Segunda Guerra Mundial: o sexagésimo aniversário da Lei Fundamental e da fundação da República Federal da Alemanha, e o vigésimo aniversário da queda do muro – comemoração que inclui o fim de 40 anos de separação da Alemanha.


Em novembro, há 20 anos, estudava em Roma. Um dia cheguei à faculdade de manhã, e vieram meus colegas para me parabenizar. Não tinha ideia de que se tratava e quando alguém contou que o muro havia caído, pensei que estavam brincando, porque a abertura do muro me parecia impossível. Naquele momento lembrei as muitas viagens de carro para visitar meus parentes em Berlim, e as dificuldades que viajantes do Ocidente enfrentavam frequentemente na fronteira da República Democrática da Alemanha, RDA. Eu tinha também familiares na Alemanha Oriental, dos quais apenas os aposentados, ou seja, pessoas acima de 65 anos de idade, podiam nos visitar na Alemanha Ocidental. Mantive contato com parentes jovens durante alguns anos, mas tínhamos que parar de nos escrever, porque eles enfrentaram dificuldades durante os seus estudos universitários para se formar como professores, devido ao fato de manterem contato com uma pessoa da Alemanha Ocidental. Estes são alguns dos pensamentos que passaram pela minha cabeça. Outras pessoas vivenciaram a queda do muro de outra forma e podem contar de outros fatos e das consequências para as suas famílias.


Este contexto mostra que é sumamente importante lembrar que o regime da RDA baseou-se na injustiça: não havia oposição legalizada, nem justiça independente ou mídias críticas.


Supervisão, espionagem, paternalismo e a supressão de opositores eram constantes na vida dos cidadãos da RDA . O muro fazia parte deste sistema opressor. Não se tratava de uma simples muralha de proteção, mas de um muro que limitava a liberdade e separava os cidadãos, inclusive, por meio de tiros. É preciso mencionar isso, porque hoje em dia existe uma tendência nostálgica que mostra a RDA completamente transfigurada. Existiam na antiga Alemanha Oriental também pessoas lutando para um futuro melhor, indivíduos comprometidos, mas tudo isso não altera o fato da RDA ter sido um Estado que restringia completamente a liberdade dos seus cidadãos em muitos aspectos.


Ainda hoje me parece milagre que podemos durante este ano, 2009, contemplar os abismos da história alemã & a invasão da Polônia que marcou o começo da Segunda Guerra Mundial & e ao mesmo tempo comemorar os dias felizes que culminaram a 20 anos na queda do Muro de Berlim, na reunificação alemã e unificação europeia.


A revolução pacífica e a reunificação proporcionaram experiências incríveis para o meu país. A Alemanha vivenciou a queda do muro e está sendo reunificada há 19 anos. Isto significa 19 anos de reconstrução no Oriente e solidariedade no Ocidente. Muitas pessoas da terceira idade estão conhecendo uma fase da vida completamente nova, e não todos os cidadãos conseguiam ter o êxito tão desejado, mas, ao contrário, passaram por decepções também.


O dia da queda do Muro foi inacreditável. Espero que também no futuro a grande alegria sobre a reunificação de Ocidente e Oriente e o fato que existe agora uma Alemanha unida, prevalecerá sempre, mesmo frente a todos os problemas que pode haver. Para mim, pessoalmente, será assim.

* Artigo publicado em 10.11.2009 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização da autora.




Anja Czymmeck

– Representante da Fundação Konrad Adenauer para o Nordeste e Norte do Brasil

anja.czymmeck@kas.de

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