Um dos mais graves problemas contemporâneos é o avanço do uso de drogas em todas as camadas sociais. O mais preocupante é constatar que temos um grande déficit no tratamento e, principalmente, na prevenção dessa praga social contemporânea. A magnitude deste problema exige a tomada urgente de medidas complementares por parte dos governos e da sociedade.


Algumas iniciativas da sociedade têm mostrado eficiência no tratamento de dependentes químicos, o que comprova a existência de soluções para esse grave problema. Venho acompanhando de perto o trabalho do grupo religioso Fazenda da Esperança que utiliza a fé em Deus como principal elemento de recuperação.


Com base nos princípios da convivência, do trabalho e da espiritualidade, os que vivem nas comunidades da Fazenda da Esperança recebem cuidados e cuidam uns dos outros. Morando em casas com 12 pessoas, número que evoca a simbologia dos 12 apóstolos, eles se fortalecem por meio de um relacionamento inspirado nos ensinamentos de Cristo.


Todos são responsáveis por produzir o que precisam consumir, dentro de uma prática em que a ocupação física e mental age como uma defesa contra os tormentos da abstinência e eleva a autoestima. Essa rotina de convivência e trabalho à luz do Evangelho acende nos dependentes o sentido de plenitude da vida que lhes faltava e os levara ao uso de drogas.


A esperança no combate à dependência de drogas não pode limitar-se a cuidar dos já dependentes. Muito mais importante é cuidar dos jovens para que não sintam a necessidade de apelar para as drogas como um mecanismo de fuga de suas realidades. Percebo que os princípios aplicados para o tratamento de dependentes químicos na Fazenda da Esperança podem servir muito bem para a prevenção.


A convivência equilibrada no núcleo mais básico da sociedade, que é a família, é o primeiro passo para a formação de uma personalidade bem estruturada, a vacina mais eficaz contra as drogas. Para isso, é necessário tratamento adequado dos conflitos entre familiares, o exercício do amor, da tolerância e muita clareza na colocação de regras de sociabilidade.


Os pais e responsáveis precisam acompanhar atentamente a vida escolar, dialogar com os professores e supervisionar o relacionamento dos filhos com os amigos, de modo a construir uma rede afetiva que funcione como uma comunidade de proteção dos jovens contra os múltiplos assédios que podem levar ao uso de drogas.


Na prevenção, vejo a aplicação do princípio do trabalho como um instrumento de formação para a cidadania e a vida, na perspectiva da preparação para uma futura profissão e como indutor de ideais construtivos. Sentir-se útil é uma condição de ruptura com as tendências antissociais que levam à letargia, ao negativismo e à desesperança.


O cultivo da espiritualidade evita o vazio interior, talvez um dos maiores atrativos para o consumo de drogas. Ela perpassa as dimensões da convivência e do trabalho ajudando o jovem a transcender os limites do individualismo e da solidão.


* Artigo publicado em 20.10.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.

 

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