Bem dizia meu professor de Direito Penal, João Bernardino Gonzaga, idos de 1977, USP: a idade mais perigosa entre os delinquentes campeia dos 13 aos 25 anos. Fogoso e temerário período, seguido do arrefecimento de ânimo e maior cautela na ação para aqueles que o sobrevivem. E concluía o velho mestre que, não permitindo a retroalimentação desse grupo, em 15 anos minguaria a violência.

 

Oh, sábias palavras que identificam estar nossas autoridades públicas atuando mais na faixa de risco do que fora dela. Assim, imitam Sísifo, condenado a empurrar uma grande pedra até o topo da montanha, depois fazê-la retornar pelo próprio peso ao sopé, e tornar a conduzi-la ao cimo, eternamente.

 

A violência não se elimina com atiradores de elite, novas e poderosas armas e mil outros aparatos repressivos. Se a porta de entrada do crime não é trancada a sete chaves, faz-se o papel de quem enxuga o chão sem fechar a torneira de onde emana a água.

Como fechar as porteiras da delinquência juvenil? Ajudando primeiramente aos pais a se prepararem para educar a afetividade e o comportamento dos filhos. Por que a afetividade e por que os pais? Porque educar a afetividade é dar ferramentas às pessoas para o auto-domínio, a critica de seus sentimentos, identificação das falhas de temperamento e caráter, e desenvolvimento das virtudes humanas contrárias aos defeitos ou vícios que possuem. Essa reconstrução pessoal apura o gosto e o eleva para deixar de atribuir tanto valor aos bens materiais ou de consumo, atoleiro dos eternos frustrados que recorrem ao crime para ter o que não possuem.

A luta pela melhora interior enriquece o espírito, que se plenificará não nas comodidades que afagam momentaneamente os sentidos, mas nos bens da inteligência encontrados na cultura, na arte (teatro, literatura, poesia, música), na religião, no sonhar com um ideal de serviço desinteressado aos demais, na criativa e dialógica convivência humana.

Quanto a educar primeiramente os pais é condição indispensável da eficaz educação, tanto para que obtenham conteúdos, como para que deem exemplo: se os principais formadores não vivem o que ensinam, qualquer esforço formativo desmorona. Aliás, aqui se encontra o calcanhar de Aquiles da educação formal, oferecida pelas escolas, ao não encontrar eco junto aos pais em apoio ao que transmitem.

 

Novos conteúdos são necessários porque os pais necessitam hoje não apenas de bom senso para fazer frente aos padrões de comportamento desintegradores da personalidade, despejados aos borbotões pelas novelas brasileiras.  Devem se preparar por meio de leituras e estudo pelo método do caso para oferecerem respostas convincentes aos jovens, que já não suportam como resposta às suas indagações a desgastada frase “Porque não pode”, que oculta ignorância e desinformação. A inteligência se deleita com razões convincentes, e a vontade humana –inclinação puramente espiritual-, vendo tão claras as razões que ensejam um comportamento acertado, se inclinará livre e amorosamente a ele.

Como o Estado poderia ajudar? Inicialmente desonerando as famílias de arcar com todo o custo da educação, ao permitir abater integralmente do imposto de renda as despesas com educação, e não apenas pequena parte dela, como ocorre atualmente; deixando de produzir leis que facilitem a desintegração da família; criando política de educação que favoreça primeiramente aos pais o acesso às informações sobre a educação do comportamento; provendo essa educação com recursos financeiros e instrucionais (salas de aulas, equipamentos).

 

Os programas de educação da afetividade não devem ser elaborados pelo poder público, sempre politizado, mas pelos próprios pais, que bem conhecem suas carências e as necessidades dos filhos, a fim de oferecerem a estes as respostas adequadas.

O Estado atual perdeu seus melhores e mais dedicados mestres: os pais, que conhecem profundamente seus alunos, não exigem salários, não fazem greves e prescindem de secretarias e autarquias para dar andamento à sua tarefa.

Criar milhares de creches e entupi-las de crianças, que passarão o dia afastadas de seus principais educadores, mesmo que próximos das “tias das creches”, longe está de educar com eficiência.

 

Infelizmente o sistema econômico atual afastou as mães do lar, obrigando-as a abandonar os filhos em estabelecimentos públicos ou particulares, para enfrentar horas em transportes sub-humanos, somadas às oito horas de trabalho. Fora do lar as mães não educam, e são insubstituíveis; já numa empresa a mulher é trocada de um dia para o outro.

Que caia a venda de nossos olhos! Exijamos dos idealizadores da consumista e selvagem política econômica que vivemos, o retorno da mulher ao lar e maior valorização dela. Aqui, dona do seu tempo, ela poderá dar andamento aos seus estudos, leituras e programas de aperfeiçoamento profissional e pessoal (coisas impossíveis àquelas que dedicam oito horas de trabalho em empresas). Além disso, a mulher do lar, poderá prestar serviços externos em horários compatíveis ou fazendo uso das tecnologias que permitem trabalho à distância.

Só edificaremos uma sociedade justa e solidária se cada um de nós, junto com os economistas e arquitetos políticos, repensarmos uma inteligente e eficaz economia. O crescimento do PIB brasileiro não pode ter como preço a desintegração das nossas famílias e o desamor entre nós.

Se aproveitarmos bem os primeiros dez anos da adolescência -dada a abertura dessa idade para o aprendizado permanente-, em breve teremos cidadãos prontos para reconstruir nossa sociedade, tornando-a mais justa e fraternal, e mais desenvolvida cientificamente.


Ariovaldo Esteves Roggerio é advogado, escritor e gestor educacional – estevesroggerio@gmail.com

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