Nem sempre temos a percepção de que estamos, neste momento, escrevendo mais um capítulo da História. Somos acostumados com uma História sempre conjugada no passado. É inegável a excitação de presenciar o “ao vivo”. É essa a sensação que as manifestações de junho, alcunhadas de primavera brasileira, trouxeram para o cenário nacional. Dentro de poucos anos, elas ilustrarão livros, num episódio conhecido como a “Revolta dos 0,20 centavos”. No auge dos protestos, cartazes vociferavam máximas, tais como: “não é apenas por 0,20 centavos” ou “enfia os 20 centavos no SUS” e, ainda, “R$0,20 não é por centavos. É por direitos”.

 

Se sim ou se não, o fato é que os 0,20 centavos mudaram o traçado político, faltando um ano e meio para as próximas eleições. O tabuleiro está engessado e perdido. Aliados de ontem, são os desafetos de hoje. Base, até então blindada, está, segundo seus próprios líderes, trincada. As vozes das ruas obrigaram a escrita de uma nova agenda. Rasga a antiga, queremos mudanças, brada o povo brasileiro.

 

É nesta conjuntura que o País toma consciência de quem são as novas caras do Brasil. Eles não são mais os caras pintadas, mas uma geração que, no futuro, será lembrada como a do vinagre, por levar o produto no seu kit sobrevivência à truculência do aparato militar. É com vinagre que a juventude brasileira vai tirando o mofo da velha política.

 

A juventude que irrompeu pelas ruas do País exigindo uma nação diferente rechaçou a estrutura política vigente. A palavra de ordem agora é “REFORMA”. O jovem de hoje se organiza pelas redes sociais e, diferente de que muitos pensavam, não está interessado apenas nos “is” do mercado (iphone, ipod etc). Ele está de olho também no que se passa no Congresso Nacional. Ajudou a construir a Lei da Ficha Limpa. Protestou contra a construção da usina de Belo Monte. Revoltou-se com a primeira aprovação do projeto batizado de “Cura Gay”. Ele saiu às ruas e se posicionou no front. O jovem de hoje quer rachar a edificação política atual e solidificar uma nova História para o Brasil. De onde nasceu esse pragmatismo? Da necessidade. Do cansaço de ver a imobilidade do establishment brasileiro.

 

E quem são essas caras? Eles representam 33% dos eleitores do país. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Data Popular, os jovens de 18 a 30 anos confiam mais em si mesmos no que Estado para garantir um futuro melhor. Ainda de acordo com a pesquisa, 59% não confiam na justiça e 75% não acreditam nos parlamentares. “São jovens que são protagonistas. Acreditam que o futuro depende mais do esforço próprio do que do Estado ou de instituições consolidadas. Ou se entende a cabeça desses jovens ou não se sabe onde vão parar essas manifestações”, comentou Renato Meireles, diretor do Data Popular.

 

A exemplo do aconteceu na resistência a ditadura militar e ao movimento das “Diretas Já”, apenas para citar alguns episódios de nossa narrativa, a juventude se ergue novamente para tirar a política nacional de sua zona de conforto e comodismo. Chega de arrastar a sujeira para debaixo do tapete. As novas caras do Brasil exigem mais assepsia neste cenário. A ordem é tirar o mofo da velha política.


Cely Fraga – jornalista da equipe da Agência da Boa Notícia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here