A Mostra Brasileira de Teatro Transcendental completa em 2014 a sua 12ª edição. Suely Vieira Rodrigues, coordenadora do evento há oito anos, fala sobre o desenvolvimento, organização e a mensagem que a Mostra traz com sua realização anual.


A 12ª edição da Mostra acontece entre os dias 20 e 24 de agosto, no Teatro do Shopping Via Sul, em Fortaleza. Além das tradicionais apresentações das peças no teatro, o evento também apresenta espetáculos em presídios e em outras entidades da cidade, com a finalidade de trazer exemplos positivos e mensagens de amor, respeito e ajuda ao próximo. “A missão principal da Mostra é transmitir, agregar e envolver a sociedade como um todo neste movimento. Para mim, a Mostra de Teatro Transcendental é um movimento de cultura de solidariedade”, reflete Suely. Confira, abaixo, a entrevista exclusiva que Suely concedeu ao site da Agência da Boa Notícia.

Agência da Boa Notícia – O que a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental trouxe de novidades nesta edição?

Suely Vieira Rodrigues –
Saímos dos terminais de ônibus e partimos para hospitais e creches. Neste ano, resolvemos levar os espetáculos para creches e hospitais justamente para dar oportunidade e acesso as crianças a cultura e diversão. Os espetáculos apresentados as instituições são infantis. Como o público é menor, conseguimos levar um teatro de bonecos para nos aproximarmos mais das crianças e, assim, atingirmos melhor a nossa missão. Além das apresentações no interior do Estado, Capital, presídios e instituições, também estamos com uma exposição do Gandhi, que é o pacifista da Mostra este ano. A exposição está no Shopping Benfica e segue até 30 de agosto.

ABN – A nova edição também trouxe como novidade o Concurso de Fotografia. Como será o processo de escolha da melhor imagem?

Suely Vieira Rodrigues –
Já fizemos uma prévia. O curador já fez a análise e as fotos estão em exposição até domingo, 24 de agosto, no acesso ao Teatro Via Sul. O público vai votar e dizer qual é a melhor foto. O papel da curadoria era escolher as fotos que seguiriam para a exposição. O público é quem vai escolher a que melhor fala sobre a paz e a frase de Gandhi “Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho”.

ABN – A Mostra Brasileira de Teatro Transcendental é evento grande e abrange diversas atividades. Quando começa o planejamento e organização do evento?

Suely Vieira Rodrigues –
Assim que termina uma edição já começamos a organizar a próxima. Ao final de uma edição, fazemos avaliações. A partir daí, começamos a elaborar o novo projeto. As reuniões começam logo que termina a edição anterior. Em janeiro, intensificamos os encontros de planejamento. Entre outubro e novembro, promovemos o edital de seleção dos espetáculos, que fica aberto até janeiro do ano seguinte. À medida que vão chegando as inscrições, já vamos fazendo a triagem. Dessa triagem, passamos para a curadoria, que analisa se as peças estão dentro do contexto da Mostra.

ABN – Por edição, quantas peças são selecionadas?

Suely Vieira Rodrigues –
A gente tenta cumprir uma grade. Normalmente, a gente sabe que a Mostra acontece de quarta a domingo. Então se são seis espetáculos, procuramos selecionar 12. Ou às vezes até um pouco mais. É importante ressalta que as companhias que vem pra cá tem que ser sensibilizadas com a proposta do evento.

ABN – Aumentou o número de companhias interessadas em participar da Mostra ao longo das 12 edições?

Suely Vieira Rodrigues –
Sim, tem bem mais espetáculos participando da seleção. Recebemos espetáculos de todos os cantos do Brasil.

ABN – Como se dá o entendimento com as companhias para levar os espetáculos para presídios e hospitais?

Suely Vieira Rodrigues –
Até agora temos conseguido esse entendimento com facilidade. Por isso que digo que quando selecionamos o espetáculo, a companhia precisa entender o sentido do evento. É um envolvimento. É abraçar uma causa maior que não é só a cultura, mas a cultura da solidariedade. Então, quando a gente pensa em um espetáculo para o presídio, já refletimos também sobre o público que vai receber a peça. O que está sendo contado naquele espetáculo e o que poderia entreter e ao mesmo tempo tocar quem está assistindo. Quando a gente consegue chegar a essa peça, conversamos com os atores e normalmente eles aceitam. Não teve nenhuma companhia que tivesse rejeitado. Pelo contrário, é um desafio para quem vai, por que a gente tem os nossos “pré-conceitos”. Quando pensa em presídios pensa em um lugar horrível e esquece que tem pessoas lá dentro. Vencer esse primeiro “pré-conceito” pessoal é o desafio e dá condições da gente ir. E graças a Deus temos encontrado pessoas que tem abraçado a causa de fato e se envolvido na Mostra com a gente.

ABN – Até o momento, qual é o balanço que você faz das apresentações realizadas nos presídios?

Suely Vieira Rodrigues –
Ano a ano a gente vem sentindo esse retorno. Nesta edição tivemos um depoimento bem marcante de um presidiário. Ele ponderou sobre quem estava promovendo o evento. Na palavra dele para os atores da peça, ele disse que sentiu que a gente tem um olhar diferente para eles. Ele falou assim: “vocês nos vêem como pessoas, nos trata de igual para igual. Nos trataram com respeito”. Eu fiquei feliz, por que a gente conseguiu passar para eles o nosso espírito humano. Não o olhar de crítica ou de pena, mas olhamos como ser humanos.

ABN – E como é organizar um espetáculo profissional, de entretenimento, cultural, mas com um fundo de solidariedade que cresce vez mais. Tem arrecadação de alimentos, doação de sangue, mensagem de paz através do concurso de fotografia, que antes era o concurso de cartazes e ainda leva a Mostra aos presídios, instituições e ao interior do Ceará. São varias atividades acontecendo ao mesmo tempo. Como é organizar e ainda passar uma mensagem de Cultura de Paz?

Suely Vieira Rodrigues –
Quem se envolve na Mostra sente um convite. Quando a gente começa a pensar na organização, primeiro vem esse sentimento. Pra mim é um evento onde a palavra amor está muito grande. Tem uma troca de energia boa, troca de amor. Temos que dar o nosso melhor para construir um evento bacana. E ele é possível construir desse tamanho justamente por causa desse sentimento bom. Mas, para nós fazemos é um aprendizado muito grande. Costumo dizer que a Mostra é um exercício de paciência, humildade, tolerância, solidariedade e cidadania. É um exercício de ser humano. É um aprendizado grande como pessoa e profissional. É por isso que sai tão bacana, porque o tempero que colocamos é amor, dedicação.

ABN – Nesses oito anos que você está a frente da organização, captou muitos exemplos de pessoas que conseguiram ser tocadas pela mensagem do evento?
Suely Vieira Rodrigues – Ao longo desse tempo, a gente vê inclusive depoimentos de pessoas que falam dessa mensagem, do que perceberam e do que foram capazes de sentir assistindo aos espetáculos. Você pensa que dois quilos de alimentos que somados a mais dois quilos de alimentos vão conseguir melhorar a vida de muita gente que está precisando. Aí percebemos que basta um movimento nosso para que toda uma corrente de coisas boas passe a acontecer. Costumamos ouvir muito as pessoas falarem que o mal se organiza rapidamente. O bem também consegue. Eu já ouvi pessoas falando que foram tocadas por essa mensagem. E eu me incluo nesse processo. São nove anos aprendendo dia a dia a me tornar melhor como pessoa. Olhar o próximo e entender que ele precisa de um carinho.

ABN – Qual era a mensagem inicial da Mostra e qual é a mensagem hoje? A experiência de 12 edições mudou a concepção original do evento?
Suely Vieira Rodrigues – Eu acho que a mensagem principal ainda se mantém, mas ela foi ampliada. No começo tinha a proposta de levar uma mensagem de esperança, coragem, fé, amor, solidariedade. E essa proposta continua. Mas foi ampliada, até porque o contexto mudou. Nós percebemos que conseguimos levar essa mensagem para muito mais pessoas. Se a Mostra começou com dois dias, hoje faz quase duas semanas de apresentações. Houve uma ampliação do nosso público e da sensibilidade. Hoje trabalhamos com temas que são bem latentes na sociedade. Se estão falando de violência, vamos falar de paz. Se estão falando de morte, a gente propõe falar de vida. A missão principal era transmitir, agregar e envolver a sociedade como um todo neste movimento, nessa corrente de solidariedade, que pra mim é um movimento de cultura de solidariedade. Ela foi ampliada, mas o eixo principal se mantém.

 

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