Deus seja louvado, amado e glorificado, em nossos irmãos e amigos falecidos, na certeza de que neles o amor de Deus fixou morada, cresceu e se fez dom para o mundo, no mais elevado espírito de confiança e na feliz bem-aventurança, indicadores daquele caminho, pelo qual deve prevalecer uma enorme sede de eterna felicidade, raiz maior do cristianismo, dadivosa vida, associada ao nosso bom e terno Deus. Que nossa reflexão sobre o tema da morte nos conscientize de que a bondade de Deus é sem limites, ao socorrer a dor e a angústia humana de toda natureza.
Compreendemos que somos limitados, que não conseguimos dar um passo a mais diante de tragédias, tensões e situações de limites. Elas nos ensinam e revelam algo precioso: a certeza de que a realidade dura e pesada dos sinais de morte nos engrandece e humaniza, dizendo-nos que a vida está acima de tudo. Daí olhar para a realidade da morte como nossa amiga, irmã e companheira inseparável. O exemplo tão bem conhecido vem de Francisco de Assis, ao dizer, com grande fé, sabedoria e confiança: “Louvado seja Deus pela irmã morte”.
O grande romancista, dramaturgo, poeta e maior escritor espanhol, Miguel Cervantes (1547-1616), em seu clássico da literatura ocidental e obra-prima “Dom Quixote”, nos estimula no sentido de jamais perder a coragem de lutar e viver de bem com a vida, na seguinte afirmação: “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo”. Aos olhos de Deus é a esperança do encontro beatífico e sagrado, quando a criatura humana irá participar da promessa da feliz eternidade.
A Carta aos Hebreus diz que “nós não temos aqui nenhuma cidade permanente, estamos à procura da cidade que há de vir” (cf. Hb 13, 14). O mundo deveria ser bom e, igualmente, as cidades deveriam ser boas.
Que as pessoas de boa vontade saibam perceber a bondade de Deus, na busca do seu próprio bem e do próximo, contribuindo para a harmonia do mundo como um todo, feito para nós, suas criaturas, na sede da eterna felicidade, agarrando-nos na força daquele que está acima das dores, angústias e tristezas humanas: “Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (cf. I Jo 3, 2). Dentro do contexto da recompensa celestial, não obstante a criatura humana fixar morada em cidades, mas por vontade do Criador e Pai, somos convidados a nunca perdermos de vista a cidade do céu, a Jerusalém do Alto.
Encerramos com Santo Agostinho, na beleza de sua obra “A cidade de Deus”, colocando-nos diante do mistério acima e propondo uma escolha: “Dois amores fundaram duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; e o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial”. Assim seja!