Quando cursava Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará (UFC), nos idos de 1970, aprendi que “jornalismo é a corrida diária atrás da notícia”. A garra, a coragem, o compromisso e a ética fazem do verdadeiro jornalista um tradutor da história, dos momentos e das lutas de um povo. Jornalista covarde não tem assento na profissão. Há de se ter coragem para enfrentar os poderosos, os contraventores, os que se acham donos da situação, seja ela política, social ou mercadológica.

No domingo (6/11), o Brasil consternou-se diante da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos da Silva, atingido no peito por um tiro de fuzil em pleno exercício da profissão, durante confronto entre traficantes e policiais na favela de Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

Mais do que a tristeza com a morte do competente profissional – que recebeu menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria TV Documentário – o que me deixa revoltada é o silêncio quanto à exposição e exploração de profissionais por parte de emissoras de TV ou mesmo quanto ao afã de muitos em quererem registrar o melhor ângulo e a mais exclusiva imagem do fato, sem pensar nos riscos e até na interferência do trabalho realizado pelos policiais.

Informar, mostrar à sociedade o que está acontecendo e denunciar a ilegalidade do estado das coisas ou das pessoas é obrigação de qualquer repórter. No entanto, para tudo há a medida do bom senso.

 

Quando no exercício de assessora de imprensa e Comunicação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), muitas vezes não me fiz entender por produtores que, desejosos de “furos” para seus programas sensacionalistas, solicitavam informações exclusivas acompanhadas de autorização para cobertura de operações policiais. Impossível!

 

A sorte é que encontrei uma pessoa com pensamento idêntico ao meu. O ex-secretário Roberto Monteiro era terminantemente contra, com receio, principalmente, que ocorresse com um deles o que vimos acontecer com Gelson Domingos.

Cobertura jornalística em momentos de risco requer cuidados especiais, treinamento especial e até equipamentos especais. Veículos de comunicação, inclusive as TVs locais, agora lamentam a morte prematura de Gelson, 46 anos, que deixou três filhos e dois netos. Dá para entender?

Artigo publicado originalmente no Jornal O Povo de 11.11.11 e reproduzido neste site com autorização da autora

 

Angélica Martins é Jornalista e professora universitária – angelmartins@hotmail.com

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