Quando um aluno se matricula em uma escola, a família espera que ele estude regularmente, cumpra suas obrigações escolares e, ao fim do ano, seja avaliado e promovido.

Ao longo dos 200 dias de um ano letivo, a escola tem amplas possibilidades de identificar o problema que uma criança está enfrentando no seu desenvolvimento. E é isso, exatamente isto: a capacidade que a escola tem de perceber este tipo de problema de cada criança que distingue a escola competente da escola incompetente. A reprovação é o tipo de problema que não encontra justificativa, nem na cabeça nem no coração de um educador.

O professor deve identificar o problema que ele percebe como dificuldade do aluno na sua disciplina e conversar com a equipe de psicopedagogia sobre o assunto. O diretor, o orientador pedagógico, o psicólogo. Todos devem assumir a solução dos problemas do aluno, inclusive estabelecendo uma saudável cooperação com a família. Esta cooperação não pode ser colocada como denúncia disciplinar, mas como cooperação para

diagnóstico mais profundo. Por trás de uma dificuldade escolar, pode estar um conjunto de causas nem sempre muito explícitas e só a competência da equipe pode resolver o problema.

Na minha experiência de 20 anos como diretor de escola e de mais 40 de professor, somente uma única vez tive que reprovar dois alunos, ainda no início da carreira. Isto me levou a concluir que me faltara competência e experiência para evitar o infortúnio da reprovação. Meu erro foi fechar o problema dentro da relação entre aluno e professor e não estender a preocupação à família.

Modernamente, dispomos de uma plêiade de psicólogos e especialistas em psicopedagogia para ajudar as famílias e as escolas na orientação de crianças com problemas específicos de atraso escolar.

Entre 1967 e 1975, orientei uma escola em Fortaleza e dirigi outra em São Paulo. Nas duas, modifiquei o regimento para extinguir a reprovação escolar com extraordinário sucesso.

Esta experiência me mostrou que a reprovação é um mal em extinção, cujos remédios a ciência já criou: conhecimento da criança, dos seus problemas das suas angústias.

Mas é bom anotar: a escola não pode ser apenas uma sequência angustiante de aulas e mais aulas expositivas. Tem que ser um espaço onde o aluno se sente feliz. Para isso ela precisa muito mais do que apenas salas de aulas e horários intermináveis de discursos pedagógicos.

Uma escola moderna sem cinema, sem grêmio recreativo, sem programas de excursões, sem bibliotecas dinâmicas, sem revistas, jornais, computadores, grupos de arte, muito esporte, experiências de trabalho e de visitas a empresas e instituições… (tanta coisa boa…!) vai ser difícil ser o lugar ideal para os alunos do século 21.

Resumindo: a reprovação é um sintoma de atraso psicopedagógico da escola. Não pode mais ser tolerada este século.

O Prof. Edgar Linhares, Presidente do Conselho de Educação do Ceará – (fone: 85 3191 2017)

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