A insegurança é o tema mais discutido pela população brasileira nos últimos tempos porque tem atingido níveis absurdos, gerando um sentimento de impotência diante da realidade cotidiana. É comum se buscar na inoperosidade da Polícia uma resposta para esse mal-estar social. Na minha concepção, antes de culparmos a incompetência do setor público de nos proteger, devemos discutir profundamente sobre as causas que nos levam a essa situação generalizada de insegurança.
A ideia de priorização das causas não é nenhuma novidade. Entretanto, é imprescindível insistir nessa tecla até que toda a sociedade tome consciência de que há algo a fazer em corresponsabilidade com os poderes públicos na busca de soluções. Esse compartilhamento de obrigações coletivas passa por uma ampla reeducação do comportamento social e pela aplicação de políticas públicas que resultem na melhoria da qualidade de vida da população.
A conscientização da cidadania e dos cuidados com o meio ambiente começa na base, no seio da família, no despertar para a espiritualidade, nos primeiros momentos da formação escolar e no exemplo das pessoas que são referência para a juventude. Mas, infelizmente, o que temos visto hoje em dia, e que é a nossa realidade, é a desagregação familiar, a falta de valores morais, a baixa escolaridade e a má influência de parte significativa dos meios de comunicação, com a espetacularização dos atos violentos, reality shows, novelas, filmes e outros programas que prestam verdadeiros desserviços à sociedade.
Diante do contraste entre uma visão conceitual desejada e a realidade vivida, resta-nos trabalhar por um projeto de transição numa perspectiva de médio prazo, a fim de podermos chegar a uma sociedade da qual possamos nos orgulhar. Como a união faz a força e não adianta ficar apenas procurando culpados, a parcela da sociedade que já tem consciência dessas necessidades tem por dever assumir a construção e a implantação de um projeto capaz de reunir as instituições já existentes, que pontualmente já desenvolvem trabalhos concretos e vitoriosos que merecem ser multiplicados.
Com a capilaridade das comunicações, possibilitada pelos meios digitais, é possível formar uma grande teia para dar mais consistência e força sistêmica aos programas existentes e aos que podem ser criados, com o objetivo de promover a superação dos abismos sociais que, muitas vezes, levam à falta de objetividade no sentido da vida.
O problema é estrutural e só desenvolveremos uma cultura da segurança criando efetivas oportunidades integradas, nos planos social, econômico, político e ambiental.
Como é impossível chegarmos a uma sociedade ideal, é óbvio que precisamos ter em qualquer circunstância uma Polícia para manutenção da ordem pública. Para que ela cumpra o seu papel, é necessário que seja composta por pessoas com nível de formação e treinamento adequados, com equilíbrio psicológico e emocional, com bom preparo físico, bem equipadas, com salários condignos e que contem com políticas de estímulo as suas relações familiares e comunitárias.
* Artigo publicado em 12.05.2010 no Jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.