A trágica morte do estudante Mardônio Freire enluta sua família, a Faculdade de Direito e toda a Universidade Federal do Ceará. É mais uma vida ceifada, mais uma jovem esperança que se esvai, em meio a uma escalada de violência que parece não ter fim e que coloca a sociedade inteira como refém do medo. O luto na Faculdade sinaliza a dor dos colegas e professores, mas também tem as cores da indignação. Há em todos o sentimento de que não podemos continuar somando perdas desse porte e de que é preciso dar um basta à criminalidade, devolvendo-se às famílias a segurança, que é um dos bens mais preciosos em país civilizado.


Preocupa, especialmente, a forma como se banalizou o ato de matar. Em qualquer rua ou bairro, a qualquer momento, marginais de todas as idades – adolescentes e até crianças – manejam com espantosa naturalidade as ferramentas da morte. E os tiros certeiros vão ampliando insidiosamente as estatísticas macabras. É aterrador, nos dias que correm, o número de jovens que têm tombado nessa guerra não declarada que se trava nas cidades brasileiras.


Se as guerras são assunto demasiado sério para ser confiado apenas aos generais, a violência urbana é algo por demais dramático para ser deixado somente em mãos das autoridades policiais. Está claro que o fenômeno sobrepuja a capacidade de um aparato meramente repressor. Os componentes sociais do fenômeno, que envolvem questões como as desigualdades sociais, o desemprego, a falta de opções de lazer, a precariedade da moradia, a ausência de perspectivas e, sobretudo, o alastramento do consumo de drogas, são fatores que tornam a criminalidade um problema extremamente complexo, em cuja solução deve envolver-se toda a sociedade.


A Universidade tem procurado fazer sua parte, no terreno de suas atribuições institucionais, e se tornou locus de importantes estudos sobre a violência. Compreendendo mais amplamente o fenômeno, nos habilitamos melhor para a tarefa de enfrentá-lo. A atitude mais desastrosa que qualquer instituição com responsabilidades sociais pode tomar, neste momento, seria resignar-se ao mero papel de espectador, enquanto nossos jovens são trucidados nas esquinas.

* Jesualdo Pereira Farias é Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Artigo publicado no Jornal O Povo e no portal da UFC e reproduzido neste site com autorização da Chefia de Gabinete do Reitor

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