Já lá se vão muitos anos que se fala na “nova“ escola de medicina para o País. A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, no fim da década de 60 e início de 70, desenvolveu um importante movimento para a melhoria do ensino médico e da organização pedagógica e administrativa da Escola, com a proposta inovadora e adequada do médico para a comunidade. Foram anos de glória e de alegria nossa na medida em que conseguimos graduar um profissional diferente com características completamente inovadoras e orientado para trabalhar na comunidade. Mas poucos anos durou o sonho. Alguns professores que jamais quiseram a mudança e lá estavam por engano conseguiram a incrível façanha de destruir o modelo estabelecido. Depois, na Faculdade de Medicina da USP, tentaram um curso experimental, ao lado do tradicional, com características inovadoras e algo semelhante ao de Brasília, mas logo foi desativado pelos inimigos das mudanças.


Há uns 25 anos, houve outro excelente movimento chamado de “o médico necessário“ desenvolvido na nossa Faculdade de Medicina da UFC. Mais uma vez, muitos reconheceram a imensa necessidade de melhoria do curso, adequação curricular, modernização dos processos educacionais, formação de um profissional dirigido para as necessidades da comunidade em geral com a utilização do conhecimento prático já adquirido por inúmeras outras escolas de todo o mundo. Foram meses de prazer e de muito trabalho quando muitos disseram qual era o médico necessário para nosso Estado. Mas o sonho durou pouco e quase nada foi feito. Depois, em épocas mais recentes, muito se tem discutido sobre a necessidade de melhorias no ensino médico e na criação de novas escolas de Medicina.


Alguns médicos são extremamente rápidos em incorporar as novas tecnologias, os medicamentos que aparecem no mercado e os novos aparelhos sofisticados que inventam com frequência, tornando a Medicina cada vez mais distante das suas reais necessidades de humanização, promoção da saúde e metodologia adequada para a atenção da saúde que são as três condições essenciais para o ensino médico. Para mim, o problema maior está exatamente no fato de que falam de novas escolas de medicina com novas metodologias (ensino-aprendizagem, participativas, ativas, ensino por objetivos, baseada em evidências, etc) e até de humanização, mas esquecem o outro elemento fundamental: promoção da saúde com melhoria da qualidade de vida, com seus componentes (prevenção das enfermidades, prática de estilos de vida saudáveis, proteção contra os fatores de riscos, mobilização do conhecimento para uma vida saudável e busca da melhoria das condições socioeconômicas para a saúde da população).


A OMS já declarou que somente com estilos saudáveis evitamos 70% das doenças. Por acreditar nisso é que o professor Viliberto Porto e eu elaboramos o projeto de um “novo“ curso de Medicina para Quixadá (Faculdade Católica Rainha do Sertão). Infelizmente o Ministério da Educação, numa atitude radical, suspendeu a criação de cursos de Medicina até não sabemos quando. Quem sabe um dia, no Brasil, se acredite nas evidências da qualidade de vida relacionada à saúde.


* Artigo publicado no jornal O Povo de 03.03.2010 e reproduzido neste site com autorização do autor.

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