Quando leio a notícia de que a agenda cultural de nossa cidade anuncia mais uma temporada da Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, agora em sua oitava edição com uma programação itinerante em municípios do interior cearense e terminais de ônibus da Capital, não posso deixar de expressar um sentimento de alegria por aferir a grata longevidade ao que podemos denominar de agenda positiva em nossas relações humanas enquanto sociedade.
Nos últimos anos, temos sido bombardeados (o termo é este mesmo) pelas pautas do que podemos chamar de grotesco e esdrúxulo na agenda dos nossos meios de comunicação. A superexposição dos fatos policiais (que não podemos esconder, eles existem) massacra o sentimento coletivo de uma cidade que se vê, pelo seu imaginário, refém da violência em uma escala percebida muito maior do que a escala da violência real. Ao que nos perguntamos se só existe o que há de ruim e dantesco a ser mostrado.
Ainda bem que não, e a mostra é um excelente exemplo para alicerçar minha linha de argumento, quando busco fundamento numa das teorias da comunicação, elaborada ainda nos anos 70 do século passado e que está em plena vigência depois de vencida a primeira década do Século XXI.
Refiro-me à Teoria do Agendamento ou agenda-setting theory, no original em inglês, elaborado por Maxwell McCombs e Donald Shaw, e segundo a qual a mídia determina a pauta para a opinião pública ao destacar determinados temas e ignorar outros tantos. Não se pode afirmar o que o público vai falar sobre aquele tema, mas sabe-se que vai falar sobre o tema agendado. Esta é a base da teoria.
Há quem afirme que as primeiras ideias da Teoria do Agendamento nasceram com Walter Lippmann, jornalista norte-americano que, em 1922, propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamente aos fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo-ambiente composto pelo que está no imaginário. A mídia (conjunto dos meios de comunicação) teria papel importante no fornecimento e geração destas imagens e na configuração deste pseudo-ambiente.
Ao analisarem a forma de atuação dos veículos de comunicação, Shaw e McCombs constataram que o principal efeito da imprensa é pautar os assuntos da esfera pública, dizendo às pessoas não o que pensar, mas em que pensar. É possível referir-se ao agendamento como uma função da mídia e não como teoria que explica a correspondência entre a intensidade de cobertura de um fato pela mídia e a relevância desse fato para o público. Demonstrou-se que esta correspondência ocorre repetidamente.
Por isso, é bom sentir que a agenda de nossa cidade pulsa em outro ritmo, tem outra sintonia e propõe espetáculos que agregam valor ao processo de formação humana, sendo referência no País, abrindo as cortinas para mensagens que calam fundo no coração de quem não comunga com o que possa parecer imutável em termos de preferência do público. Vida longa a essa amostragem teatral.
* Artigo publicado em 17.08.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.